São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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Pais serão responsabilizados

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O professor de antropologia e pesquisador sobre violência na UFPA (Universidade Federal do Pará) Alexandre Cunha disse que apenas um programa de "tolerância zero" poderia acabar com as gangues de Belém.
Na operação "tolerância zero", programa aplicado com sucesso em Nova York, nos Estados Unidos, e tentado em São Paulo, a polícia deve manter um trabalho ostensivo, proibir o agrupamento de supostos desocupados e reprimir todo e qualquer delito, por menor que aparente ser.
Estado ineficiente
"A transgressão é inerente ao ser humano. Mas o Estado é ineficiente, não coíbe e só se mexe quando os jornais estampam manchetes", afirmou o antropólogo.
"Hoje acontece uma briga com dois garotos e nenhuma providência é tomada. Amanhã, com três; depois de amanhã, com 40", disse.
"A violência vai aumentando: desordem, depredações, agressões, espancamentos e assassinatos", argumentou o antropólogo.
Família
Para Cunha, as gangues estão voltando porque a família e a sociedade não conseguem canalizar a energia dos jovens para outras atividades mais saudáveis.
"Eles se identificam nos bandos, encontram hierarquia e buscam, como qualquer ser humano, poder, mas por meio da violência", afirmou o pesquisador.
O delegado da Divisão de Vigilância Geral, Bertolino Oliveira Neto, disse que, com a prisão dos líderes das gangues, a atual operação vai surtir bons efeitos.
"Vamos também responsabilizar os pais dos infratores", disse o delegado.
Liberdade em excesso
A psicóloga da Promotoria da Infância e da Juventude Cristina Romeiro diz apoiar a medida.
"Os pais soltam demais seus filhos hoje. Eles precisam impor limites e monitorar de perto meninos e meninas", disse a psicóloga.
"Muitas vezes recebemos adolescentes que foram levados alcoolizados às 4h para a delegacia e os pais nem sabiam onde estavam", afirmou Romeiro.
O Estatuto da Criança e do Adolescente permite que menores de 18 anos permaneçam na rua desacompanhados de um maior responsável só até as 22h.

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