São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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Parlamentarismo já?

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - É curioso como proliferam as discussões sobre saídas estratégicas e criativas, apesar de geralmente inúteis, quando os governos começam a dar sinais de fragilidade. É o caso, agora, do parlamentarismo.
Pode parecer meio extemporâneo discutir sistema de governo a esta altura do campeonato, mas é fácil identificar o terreno em que o tema floresce: como os adversários não convencem, Fernando Henrique tem tudo para se reeleger -mas correndo o sério risco de perder poder no segundo mandato. O parlamentarismo, então, poderia se transformar em gênero de primeira necessidade, para evitar crises e sucessivas derrotas no Congresso.
A discussão é encabeçada pelo deputado e ex-governador Franco Montoro, que do alto de seus 80 anos já advertia que um plebiscito legitimaria a reeleição e evitaria denúncias de fisiologismo. Não escutaram. Deu no que deu. Ele de fato tem um pequeno raio de ação política, mas sua autoridade moral e política é inquestionável.
É Montoro quem está convidando deputados parlamentaristas do PSDB, PMDB, PFL e PPB para uma reunião na próxima quarta-feira, dia 25, no hotel Bonaparte, em Brasília. Muitos já confirmaram presença. Pode ser até que apareça alguém do PT, mas Montoro se apressa a explicar que não se trata de movimento contra o governo, muito pelo contrário.
O PSDB de FHC é o único partido parlamentarista desde a origem. Seu programa já punha o dedo na ferida, sete anos antes de sua posse, ao alertar que o presidencialismo "tende a ser o regime do poder unipessoal e das decisões a portas fechadas, num convite permanente ao fisiologismo político".
Fernando Henrique sabia muito bem disso na teoria. Pode ser que esteja dolorosamente confirmando na prática. Por que não tentar fórmulas mais modernas no segundo mandato? Só se o PFL não deixar.
Não seria tão difícil assim. Afinal, o perfil levemente aristocrático do professor e sociólogo Fernando Henrique Cardoso é muito mais próximo do chefe de Estado do que do chefe de governo. Ele próprio, aliás, sabe disso melhor do que ninguém.

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