São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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Marcel Marceau leva Bip ao Municipal

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

No papel de Bip, o personagem que o consagrou como o mímico mais popular da era contemporânea, Marcel Marceau realiza somente duas apresentações hoje, no Teatro Municipal de São Paulo.
Anunciando que essa será a sua última temporada solo, Marceau diz que, de agora em diante, pretende se dedicar à direção de sua companhia, que reúne 14 mímicos e que em breve estreará o espetáculo "O Chapéu Coco", uma sátira sobre o comodismo, ambientada na Inglaterra.
Mímica corporal
Aos 74 anos, Marceau é um clássico das artes cênicas. Nascido na cidade francesa de Strasbourg em 22 de março de 1923, Marceau iniciou sua carreira em 1944, quando conheceu Étienne Decroux, no Teatro Sarah Barnhardt de Paris.
Pouco antes, Marceau havia enfrentado a Segunda Guerra Mundial, escapando da Gestapo e lutando na Resistência Francesa.
Com Decroux, que lançou as bases da mímica corporal na Europa, Marceau "converteu-se" à expressão sem palavras que, segundo ele, é capaz de tornar visível o invisível.
Em 1947, quando criou Bip, o personagem que está comemorando 50 anos, Marceau se desligou de Decroux para formar sua própria companhia. Começou aí uma sucessão de turnês internacionais, que levaram Marceau e Bip a todos os cantos do mundo.
"Esta atual temporada no Brasil é uma comemoração do cinquentenário de nascimento e criação de meu personagem solista. Trata-se de um espetáculo essencialmente clássico, que celebra o que já fiz de melhor", diz Marceau.
Capaz de atingir públicos de todas as gerações, o Bip de Marceau tornou-se uma espécie de Carlitos do teatro. "Bip é um Don Quixote, o cavaleiro errante que luta contra os moinhos de vento da existência", costuma dizer.
Com seu rosto pálido onde a boca é apenas um traço vermelho, chapéu enfeitado por uma flor, malha listrada recobrindo o corpo, Bip é um herói romântico, que navega entre o cômico e o trágico da vida cotidiana.
Segundo Marceau, Bip é descendente dos mímicos gregos e romanos. "Também é parente do pierrô empoado, que se misturou ao povo na Revolução Francesa, e dos heróis de Charles Dickens, trucidados pela miséria na periferia de Londres."
O nome
Marceau conta que o nome Bip vem de Pip, personagem do romance "Grandes Esperanças", do escritor inglês Charles Dickens. "Com Bip pretendi criar uma arte renovada, ancorada na tradição antiga do teatro e também no cinema mudo."
Outras influências reconhecidas por Marceau são os teatros nô e kabuki, do Japão. "Destas expressões retirei certa estilização dos gestos", diz.
No espetáculo de hoje, Marceau interpretará as aventuras de Bip na segunda parte. Na primeira, apresentará as Pantomimas de Estilo, uma série de metáforas sobre as situações simples da vida.
"O essencial é invisível aos olhos. Não vemos senão com o coração", lembra Marceau, tomando emprestada uma afirmação do escritor Saint-Exupéry.

Espetáculo: Marcel Marceau
Quando: hoje, às 16h e às 21h
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nº; tel. 222-8698)
Quanto: R$ 70 (setor 1); R$ 50 (setor 2); R$ 30 (setor 3); R$ 20 (setor 4) e R$ 10 (setor 5)

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