São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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Brasil deixa Fernández desapontado

FERNANDO GODINHO
DO ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

O ministro da Economia da Argentina, Roque Fernández, deixou de lado suas declarações diplomáticas e expressou ontem seu desapontamento com o governo brasileiro em entrevista exclusiva à Folha.
"Não era o que nós esperávamos", disse Fernández, referindo-se à decisão brasileira de manter as restrições ao financiamento de importações por um período inferior a 360 dias -elas precisam ser pagas no momento do desembarque.
O Brasil manteve até 31 de outubro uma exceção para seus parceiros do Mercosul em operações entre US$ 10 mil e US$ 40 mil -essas importações podem ser pagas em dois meses.
Mas essa solução não agradou ao ministro argentino. "Teria sido melhor avançar um pouco mais", disse, lembrando que seu país queria ampliar o alcance dessa exceção ou, na melhor das hipóteses, eliminar totalmente a restrição.
Roque Fernández conversou com a Folha no saguão do Hotel Excelsior, onde, desde a última segunda-feira, aconteceram as negociações entre as equipes dos quatro sócios do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).
Pressão Para o ministro, o Banco Central brasileiro é o responsável pelas restrições adotadas. "A origem dessa medida está no Banco Central", disse.
Ele avalia que o Brasil está sendo "fortemente pressionado" pela OMC (Organização Mundial do Comércio) para levantar as restrições.
Também considera que, ao negociar uma exceção para o Mercosul, o Brasil dá argumentos à OMC, para "interpretar a medida como uma barreira comercial e não como uma barreira financeira". Fernández confirmou que o Brasil foi pressionado por seus parceiros para suspender a medida. "Houve uma pressão sobre o Brasil para acabar com o regime especial de financiamento às importações."
O ministro também não gostou do ritmo das negociações que visam o fim de concessões de subsídios por parte do governo brasileiro, principalmente ao setor açucareiro.
"Se subirem os subsídios, a Argentina vai subir suas alíquotas adicionais de compensação. É um direito previsto pelas regras comerciais", afirmou, lembrando que o açúcar brasileiro já sofre uma sobretaxa de 35% para entrar na Argentina.

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