São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997 |
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"Ifá" traz candomblé, Bíblia e erotismo
ANA FRANCISCA PONZIO
Só que na interpretação do coreógrafo Sandro Borelli, a cultura africana foi associada à Bíblia, e essa mistura foi inserida num contexto urbano contemporâneo. Embora assine a coreografia, a direção artística e a adaptação de "Ifá", Borelli salienta que a autoria do espetáculo é de Dulce Bonna, Sonia Soares e Sueli Domingues, compositoras que pesquisam a cultura e a religião iorubá. Ao finalizar a pesquisa, as três autoras convidaram Borelli para que ele criasse uma versão cênica sobre o tema. "Tomei a liberdade de não utilizar a música original na íntegra", diz Borelli. "Por isso, solicitei um arranjo em ritmo de rock a Mathias Capovilla, que realiza a direção musical do espetáculo." Executada ao vivo por uma banda que divide a cena com seis bailarinos, a música de "Ifá" ajuda a compor um ambiente que simula uma catedral em ruínas. "Trato o palco como um tabuleiro, onde os bailarinos são as peças do jogo e o público, os pais-de-santo que vão decifrar o espetáculo", explica Borelli. "Nesse ambiente, ainda pressuponho a presença de uma entidade gigantesca do candomblé, Orumilá, que induz acontecimentos na vida das pessoas." Apesar do caráter místico, "Ifá" (que na Nigéria é considerado o deus do conhecimento) contém marcas de espetáculos anteriores de Borelli. "Continuo falando do ser humano e da hipocrisia que nos cerca", afirma. Para tanto, Borelli costuma recorrer a um erotismo quase obsceno que, em "Ifá", alia-se ao conteúdo religioso. "Não quero polemizar", adianta, ressaltando seu gosto pelas dualidades. "Aprendemos que a religião está destituída de erotismo, e eu sempre duvidei disso, até porque Jesus nos é apresentado como um homem muito bonito." "Então, por que negar sua sensualidade?", pergunta Borelli, que em "Ifá" mostra Cristo sendo batizado com o esperma de um anjo. Espetáculo: "Ifá -Se querem gritar para o mundo...", de Sandro Borelli Quando: de hoje até setembro (quinta a sábado, às 21h30, e domingo, às 20h30) Onde: Porão do Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611) Quanto: R$ 12 Texto Anterior: Brasileiros estréiam em festival de cinema latino-americano Próximo Texto: ABCD feminino baila em Cuba Índice |
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