São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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ABCD feminino baila em Cuba

CLAUDIA VARELLA
DA AGÊNCIA FOLHA, NO ABCD

Formado apenas por mulheres de um bairro pobre de Diadema (Grande São Paulo), o grupo de dança "Mulheres de Eldorado" vai se apresentar com o espetáculo "Sem-terra" no 17º Festival de Arte e Cultura Caribenha Fiesta del Fuego, em Cuba.
O festival, que acontece entre 3 e 9 de julho, homenageia o Brasil este ano.
O Ministério da Cultura brasileiro vem sendo acusado de patrocinar a viagem de um "trem da alegria", uma delegação de 57 artistas, para Cuba.
As componentes do grupo do ABCD não estão nessa lista.
O "Mulheres de Eldorado", formado por 40 mulheres com idades entre 14 e 64 anos, surgiu em fevereiro de 1995 na oficina de dança do bairro. Fazem parte do grupo empregadas, "donas-de-casa", diaristas, cabeleireiras e estudantes.
Segundo a coreógrafa do grupo, Rose Maria de Souza, 34, ela, é a primeira vez que as "Mulheres de Eldorado" se apresentam no exterior.
"Todas as mulheres são migrantes e nunca viajaram para o exterior. A maioria nem conhece Santos."
Com textos de João Cabral de Mello Neto ("Funeral de um Lavrador") e de Herbert de Souza, o Betinho ("Carta da Terra"), o espetáculo foi criado há um ano e trata da questão agrária do país.
"O espetáculo não é bonito, mas fala de uma vergonha nacional. O organizador do festival em Cuba, Jorge Hart, convidou o grupo dizendo que ele era muito original", disse.
Além de dançarina, a dona-de-casa Jolanda Lima da Ressurreição da Silva, 48, é a costureira do grupo. "No começo tinha vergonha de dançar, porque me achava velha. Hoje tenho orgulho. Agora é que eu estou aproveitando a vida", disse.
Natural de Sergipe, Jolanda mora em Diadema há 30 anos e nunca viajou para o exterior. "Os vizinhos até brincam comigo: Você vai para Cuba? Não é Cubatão, não?"

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