São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 1997
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Planalto deixa de investigar denúncia contra petebistas

Deputados do partido acusam governo de fazer chantagem

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto deixou de apurar um escândalo que envolveria deputados num esquema de propinas nos contratos da Datamec com empresas fornecedoras.
Em uma conversa gravada, o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) é apontado como beneficiário do esquema.
A gravação foi divulgada pela revista "Isto É". Nela, o então presidente da Datamec (empresa de informática da Caixa Econômica Federal), Sérgio Gois, recebe a informação de que Marquezelli recebeu um depósito em sua conta.
O secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas, usou a mesma informação, em 13 de maio, para pressionar o líder do PTB na Câmara, Paulo Heslander (MG), e demitir Sérgio Gois, um afilhado político de Marquezelli.
Heslander disse que vai ao Planalto hoje exigir que a PF apure a denúncia. "Defendo a bancada, mas, se tiver algum deputado envolvido, vai sofrer punição."
Marquezelli diz que "o governo está querendo fazer chantagem". "O comportamento do Eduardo Jorge é esquisito. Ele tinha a obrigação de mandar apurar. Eu não temo a apuração. O depósito citado foi o pagamento de um empréstimo de R$ 15 mil que fiz ao Gois."
Eduardo Jorge disse à Folha que uma pessoa que se apresentava como funcionária da Datamec revelou ao governo, anonimamente, detalhes da fita, "mas se recusava a entregar a fita. Dizia que iria entregar à imprensa".
O secretário-geral afirmou que não chegou a ouvir a gravação e nem falou com o denunciante. Mas pediu providências à direção da CEF. "Mandei olhar e não me senti confortável. Decidi mudar a direção da Datamec. Chamei o líder do PTB e avisei", relatou.
Heslander foi ao Planalto acompanhado de Fernando Gonçalves (PTB-RJ) e José Borba (PTB-PR). Aceitou a demissão de Gois, mas acertou que o PTB indicaria o sucessor. Marquezelli indicou Sérgio Bellerini para o cargo. Gonçalves e Borba não aceitaram. "Essa fita não existe. Se existe, queremos ouvir a fita", disse Gonçalves.
Jorge fez uma proposta aos deputados: "Vocês querem ouvir? Se trouxerem a fita e vocês ouvirem, o que vamos fazer quando acabar? Vamos ter que encaminhar à Polícia Federal. Se eu ouvir, eu também tenho que mandar para a PF", respondeu, segundo ele mesmo relatou à Folha. Em seguida, argumentou com os deputados que a divulgação da fita "não seria bom para o governo nem para o PTB".
Informou que havia suspeitas de corrupção na Datamec. "A Caixa deu uma olhada. A empresa estava pagando muito caro por contratos antigos que já poderiam estar renegociados", disse ontem.

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