São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 1997
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Amazonino depõe e se nega a abrir sigilo

DANIEL BRAMATTI
LUIZA DAMÉ

DANIEL BRAMATTI; LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Deputados de oposição se retiram da sessão da CCJ em protesto à recusa do governador do AM

O governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL), suspeito de participar da compra de votos em favor da reeleição, recusou-se a abrir mão de seu sigilo bancário, fiscal e telefônico.
Em sinal de protesto, os deputados do bloco de oposição (PT, PDT, PSB e PC do B) se retiraram da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), onde Amazonino prestou depoimento ontem.
Eles alegaram que, sem a possibilidade de quebrar o sigilo, o depoimento não ajudaria a esclarecer nada sobre a compra de votos.
A previsão acabou se confirmando. Amazonino negou qualquer envolvimento e vários deputados reconheceram que não tinham elementos para contestá-lo.
"Não temos nada diante dos depoimentos prestados pelo governador e pelo ministro Sérgio Motta. Sugiro que o relator considere até a reabilitação dos colegas que renunciaram, já que cometeram um crime impossível", ironizou o deputado Jarbas Lima (PPB-RS).
No início do depoimento, Amazonino foi provocado pelo deputado Matheus Schmidt (RS), vice-líder do PDT, que pediu uma definição sobre a quebra de sigilo.
O governador disse que já estava abrindo mão de uma prerrogativa do cargo ao comparecer à comissão. "Não abrirei mão das outras prerrogativas. É uma questão institucional", afirmou.
O deputado Nelson Otoch (PSDB-CE), relator do processo de cassação dos deputados envolvidos, afirmou que o ministro Sérgio Motta, ao depor, disse que abriria mão do sigilo se as demais autoridades fizessem o mesmo.
"Faço minhas as palavras do ministro", respondeu Amazonino. A frase foi desmentida logo a seguir, quando ele voltou a descartar a possibilidade de abrir suas contas.
"Vossa excelência me convida a inaugurar um novo critério. Pela sua lógica, toda vez que alguém vier aqui prestar esclarecimentos, deverá ter o sigilo bancário quebrado", disse Amazonino, ao responder ao deputado Adhemar de Barros Filho (PPB-SP), que também insistiu na quebra de sigilo.
O deputado sugeriu ao relator que, nas suas conclusões, peça a criação de uma CPI para investigar o caso: "Só a CPI poderá avançar. A gente sempre acaba esbarrando na questão da quebra de sigilo."
Amazonino admitiu ter "trabalhado com empenho" em favor da emenda da reeleição, mas negou qualquer contato com deputados do Acre com esse objetivo.
O nome do governador foi citado dezenas de vezes, como fonte de pagamentos em troca de votos, em conversas dos ex-deputados Ronivon Santiago e João Maia.
Sociedade
O empresário Fernando Bomfim, que disse ter sido testa-de-ferro de Amazonino Mendes em uma empreiteira que realiza obras públicas no Estado, é sócio do filho do governador, Armando, na empresa Dynamos Industrial.
A informação está no registro da empresa na Secretaria da Fazenda do Amazonas. A Agência Folha conseguiu cópia do cadastro onde consta o registro. A Dynamos monta celulares da marca Audiovox na Zona Franca de Manaus.
A Agência Folha não localizou ontem o filho do governador. O secretário de Comunicação do Estado, Ronaldo Tiradentes, disse que não poderia falar sobre o caso.

Colaborou a Agência Folha, em Manaus

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