São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Muito legal

JANIO DE FREITAS

Dar significação a uma das palavras mais vulgares e, não por isso, mais vazias de sentido na linguagem de todos os brasileiros -eis o mais o estranho, mais inovador, mais ambicioso e mais temerário objetivo político e administrativo lançado neste quadrante de reforma.
No seu uso, digamos, mais elevado, legal é uma palavra destituída de sentido em relação às práticas dos governantes de todos os níveis e dos parlamentares idem. Tal como se tornou cada vez mais distante das esperanças do cidadão comum que pensa nos seus direitos ditos legais. Ou na possibilidade de fazê-los respeitados por meio legal.
Um cara legal sabe que tudo é muito legal, tá legal? Nada de significado nítido. Na linguagem simplória de todos, só importa que a palavra seja bem legaaaal.
E então vem aí um movimento chamado Brasília Legal. Nas palavras do seu criador, Cristovam Buarque, um movimento que vai fazer todo o possível para extinguir todo e qualquer tipo de ilegalidade presente no dia-a-dia do Distrito Federal. (Com exceções inevitáveis, naturalmente, porque a Presidência da República e o Congresso ficam no Distrito Federal).
Dizem que a idéia do governador foi muito bem recebida pelos brasilienses. O plano de ação, porém, só será apresentado por Buarque daqui a uns 15 dias. Suas preocupações maiores parecem dirigir-se para a ocupação do solo na capital e suas adjacências. É compreensível que seja assim, mas isso mesmo faz menos compreensível qualquer otimismo quanto a apoios ao plano.
Enquanto Fernando Henrique Cardoso faz ataques verbais e medidas falsamente provisórias contra os sem-terra invasores de áreas rurais, os invasores que construíram casas, condomínios, chácaras em áreas de propriedade do Distrito Federal, ou da União, continuam vivendo na paz dos privilegiados. Fora da lei, mas dentro das relações de conivências planaltinas.
Aí está só um aspecto envolvido na pretendida transformação do Distrito Federal em primeiro território, nos quase 500 anos brasileiros, onde a lei seja legal. E legaaaal.
Farsa boba
Acusado de comprador de votos para a reeleição e repassador dos pagamentos de Sérgio Motta a deputados vendidos, o governador Amazonino Mendes recusava-se a "depor" na Comissão de Constituição e Justiça: não entendia que a investigação ali é para não haver investigação. Inocêncio de Oliveira, Antonio Carlos Magalhães e outros deram-se ao exaustivo trabalho de explicar tudo ao seu correligionário.
Representantes autênticos do pefelismo, marcaram o depoimento para segunda-feira (ontem). Que, além de segunda-feira, é o dia da festa junina que a maioria dos deputados invoca para atrasar mais o retorno a Brasília. Pincelada final dos farsantes: o "depoimento" foi marcado para as 7 da noite. Com início provável, em havendo, lá pelas 8.
Só 10% dos deputados, 50 e poucos, marcaram presença ontem na Câmara.

Texto Anterior: Tema de campanha não tem ligação com empresa
Próximo Texto: Governo nega ligação com reeleição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.