São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 1997
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Fiscal aplica a multa mesmo com dúvida

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Munidos de um treinamento insuficiente sobre os casos em que o rodízio se aplicava, os fiscais da Cetesb foram para as ruas ontem com a seguinte orientação: "Na dúvida, a ordem é multar".
Essa foi a frase ouvida pela Folha de oito fiscais entrevistados ontem pela manhã. "Se o veículo for isento, o motorista entra com recurso depois", justificaram-se.
A medida encobre uma deficiência no entendimento das regras do rodízio de carros. Questionados sobre os casos em que a multa deveria ou não ser aplicada, os fiscais deram respostas desencontradas, em alguns itens.
Para o fiscal Vânder Mariano Rocha, 18, por exemplo, os carros oficiais estão isentos do rodízio e não deveriam ser multados, ao contrário do que estabelece o decreto que criou o rodízio.
Rocha, que é estudante de processamento de dados, agia na fiscalização na praça Panamericana (zona sudoeste) ontem.
O mesmo engano -exclusão dos carros oficiais- cometeu a fiscal Daniella Corrêa Caçador, 18, que anotava placas proibidas na esquina da avenida Paulista com a rua Augusta (zona sudoeste).
Daniella também não soube dizer se as betoneiras -caminhões de transporte de concreto, considerado produto perecível- estavam isentas do rodízio.
"Hoje é o primeiro dia, não estou sabendo de tudo. Aos poucos vou pegar mais prática", disse Omar Barbosa Lima Neto, 20, que trafegava ontem em um carro da Cetesb autuando carros com placas final 1 e 2.
Entre as dúvidas de Neto, que é estudante de publicidade, também figura a inclusão do carro oficial. "Acho que é para multar, mas não encontrei nenhum ainda", disse.
A inclusão das gestantes, que foram isentadas do rodízio por uma liminar concedida na semana passada, também gera polêmica.
"Se eu puder ver que a mulher é gestante, eu não multo", disse Renata Alves Machado, 18, que controlava as placas dos carros que passavam pelo cruzamento das avenidas Paulista e Brigadeiro Luís Antonio.
Sua colega de "ponto", Cláudia Tonelli Franco Bastos, 34, agente de controle ambiental da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, discorda.
"Como é que eu vou saber se a mulher é mesmo grávida? Ela deve recorrer depois."
Dúvida semelhante levou Herbert Bertacco, 18, a multar um suposto deficiente físico que trafegava com placa proibida na praça Panamericana. Os deficientes são isentos, pela regra do rodízio.
"O cara passou mostrando uma muleta, mas não tinha o adesivo, que é o que importa. Se fosse assim eu também arrumava uma muleta para não levar multa."

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