São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 1997
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Exemplos

JUCA KFOURI

Recebi do leitor José Cláudio Linhares Pires, no dia 17, o seguinte e-mail, que merece ser transcrito integralmente.
"Atribuo a você, ao Matinas e ao Alberto Helena exemplos de dignidade e coerência, qualidades tão escassas hoje em dia na imprensa esportiva de nosso país.
"Veja que coisa curiosa ocorreu comigo. Moro no Rio e tenho um filho de 14 anos que é torcedor fanático do Fluminense. Durante todo o ano passado dei-lhe uma dura danada para que ele estudasse, usando como exemplo negativo o desempenho de seu próprio time: não se preparou para o campeonato (não estudou), fez uma campanha medíocre (tirou notas vermelhas) e, conforme as regras previamente estabelecidas (normas do colégio), caiu para a segunda divisão (repetiu o ano).
"Acho que o exemplo valeu, pois, mesmo aos trancos e barrancos, ele acabou se recuperando nas provas finais.
"Acredito que o esporte é uma referência importante para os jovens de hoje e para os pais que procuram educar seus filhos num país em crise ética e de identidade (dentre tantas outras). Desta forma, é no mínimo uma irresponsabilidade social e um crime contra a juventude deste país se o Fluminense for reconduzido à primeira divisão.
"Diga-me, Juca, o que direi ao meu filho? Como convencê-lo que só com seu próprio esforço conseguirá ser alguém na vida? Como apagar a impressão de que o jeitinho brasileiro sempre prevalece?"
Outro e-mail, ironicamente vindo de Brasília, no dia 21, é de Erivaldo Ramos, pai de um menino de cinco anos.
O pequeno, também tricolor e ainda na pré-escola, chegou em casa no dia seguinte à queda do Flu contando que os coleguinhas tinham mexido com ele. E perguntou o significado de ir para segunda divisão, como seria daí em diante.
O pai explicou o que tinha acontecido e que bastava ao time jogar bem para voltar à primeira divisão.
Na sexta, o menino chegou em casa disse ao pai que ele o enganara, porque o Flu estava de volta sem ter jogado.
"Aí, eu pergunto ao Ricardo Teixeira: você não tem vergonha? Sou eu o mentiroso? O que digo para o meu filho? Que leis não são feitas para ser cumpridas, que moral e ética são palavras feias?"
Eis as perguntas que certamente os cartolas não estão preocupados em responder. Mas é possível que ainda haja autoridades neste país que queiram fazê-lo.

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