São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 1997 |
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CD de estréia opera a globalização do sertão
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Desde "Heavy Metal do Senhor", Baleiro mostra filiar-se à linhagem de Zé Ramalho, em especial no quesito voz. Só aqui e ali foge de tal modelo, como na branda "Bandeira", cuja melodia flerta perigosamente com a de "Eu Sou Neguinha", de Caetano. No mais das vezes, entretanto, a fôrma é mais da aspereza agreste que da malemolência baiana. Onde o trabalho nascedouro de Baleiro mostra-se mais oscilante é nas letras que ele inventa, ainda que sejam mais complexas que quase tudo da atual MPB. Baleiro pertence à verve em que Itamar Assumpção reina soberano (e que Chico César também persegue) -a da combinação inteligente e inusitada de palavras numa poética bem particular. Acontece que o que em Itamar resulta de intensiva pesquisa de linguagem em Baleiro parece recombinação feita ao acaso. Trechos como "volto pra mamãe, volto pra papai/ corro pro Xingu, fujo pra Xangai" (de "Dodói") conservam a forma aprendida em Itamar, mas o conteúdo foi perdido pelo caminho. Igualmente cosméticos parecem os temas de "Salão de Beleza", "Kid Vinil" ou "O Parque de Juraci" (gracinha com "Jurassic Park"). A singeleza da música maliciosa nordestina chega enfim à era da globalização: o parque a que Juraci quer levar o narrador é um self-service por quilo. Mas Baleiro parece saber que se encontra em início de percurso. Em "Stephen Fry", reporta-se a caso do ator que, deprimido por uma crítica negativa, desapareceu. Baleiro chega ressabiado, desculpando-se de antemão pela vulnerabilidade do trabalho do artista frente à crítica. Não era preciso, que integridade ele traz de sobra -quem mais teria a sábia sobriedade de convidar Wanderléa para recitar Shakespeare? (PAS) Texto Anterior: Zeca Baleiro Próximo Texto: Jon Bon Jovi; Erasure; Maria Bacana; Renato Grinberg; Joanna; Regininha Poltergeist; Índice |
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