São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 1997
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Entidade era dissidência do teatro Arena

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O CPC surgiu de uma dissidência do teatro de Arena, de São Paulo, em 1961, no encontro entre o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, o futuro cineasta Leon Hirszman e o filósofo Carlos Estevam Martins.
Conduzido por José Renato, Oduvaldo Vianna Filho -Vianninha-, Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, o Arena executava desde 1955 o projeto de organizar uma dramaturgia nacional, de cores políticas.
O espetáculo "Eles Não Usam Black-Tie", de Guarnieri, foi a montagem impulsionadora de seu sucesso, que seguiria década de 60 adentro.
A dissidência surgiu motivada pela restrição do teatro de Arena a um público reduzido (o teatro tinha cerca de 150 lugares) e de classe média alta.
Vianninha havia se mudado para o Rio ee Janeiro e buscava atingir "as massas" com os textos que escrevia. Bolou "A Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar", mas precisava de auxílio teórico para entender os conceitos de Marx.
Ele e Hirszman procuraram o Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), onde conheceram Carlos Estevam, que passou a colaborar com o grupo.
Daí surgiu a idéia de criar um Centro Popular de Cultura. O projeto foi apresentado à UNE, que o encampou.
Significou a aproximação sempre almejada às ditas "massas" -antes, a UNE padecia da indiferença quase total dos estudantes em relação à sua existência.
Popularidade
Lidando com cultura, o CPC trouxe popularidade à UNE, enquanto somava a seus quadros futuros nomes importantes no cenário nacional, como Carlos Diegues, João das Neves, Carlos Lyra, Geraldo Vandré, Edu Lobo, Carlos Vereza, Arnaldo Jabor, Paulo Francis e Sérgio Ricardo, entre muitos outros.
O CPC participou ativamente das chamadas UNE-volantes, caravanas que levavam cultura e discussão política a todas as capitais do país e ajudaram a propagar Brasil afora os centros populares de cultura.
Inúmeras peças de Guarnieri, Vianninha e João das Neves, além do filme "Cinco Vezes Favela" (um dos precursores do cinema novo), resultaram da experiência.
O Golpe Militar de 64 veio exterminar a efervescência. Na madrugada de 1º de abril de 64, a sede da UNE foi incendiada e toda sua atividade, proibida. Por consequência, o CPC se dissolveu.
Seus remanescentes, Vianninha, João das Neves, Ferreira Gullar (que fora o segundo presidente do CPC), Denoy de Oliveira e outros montaram, em dezembro de 64, o teatro Opinião.
Foi manifestação sobrevivente que difundiu, em shows populares, artistas como Nara Leão, Zé Keti, João do Vale, Cartola e Nelson Cavaquinho e revelou outros, como Maria Bethânia. De qualquer forma, a era CPC estava extinta.
(PAS)

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