São Paulo, sábado, 5 de julho de 1997
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Bebê encontrado no lixo pode ser adotado

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A empregada doméstica Célia dos Santos Pereira, 22, que abandonou o filho recém-nascido dentro de um saco de lixo na manhã de anteontem, pode perder o pátrio poder sobre a criança.
Ela pode perder também a custódia sobre a filha, de 3 anos, que é criada pelo avô materno.
Se a Vara da Infância e da Juventude decidir que Célia não pode ficar com o bebê, salvo pelo lixeiro Lúcio dos Santos Lima, 25, antes que fosse esmagado pelo triturador do caminhão de lixo, a criança será encaminhada para adoção.
"Sem o pátrio poder, a criança não faz mais parte da família da mãe natural, que perde qualquer direito sobre ela", disse a assistente social Roseli Bolgueromi, técnica da Vara da Infância.
Segundo Roseli, a decisão sairá após o depoimento de Célia. Até ontem, a Vara da Infância não havia sido comunicada oficialmente que Célia havia sido presa e depois libertada sob fiança.
"Até o momento, é do nosso conhecimento apenas o encontro da criança. É necessário ouvir a mãe e fazer todas as perícias para saber se ela quer e se apresenta em condições de ficar com a criança."
Recurso
Qualquer que seja o veredicto, Célia poderá recorrer. Enquanto o recurso não for julgado, o bebê não estará livre para a adoção.
O paradeiro de Célia é desconhecido. Funcionários do prédio onde ela trabalha, na Aclimação (centro de São Paulo), disseram ontem à tarde que ela havia sido levada pelo pai, Manoel Balbino da Cruz.
"Ela saiu encapuzada e carregava uma bolsa, disseram meus colegas", contou o zelador João Thieme. Segundo o funcionário, Célia saiu entre 5h e 6h30 da manhã.
O patrão de Célia, o empresário Fernando Exel, 37, viajou com a mulher, Cleide, para o interior.
Depoimento
Em depoimento prestado na noite de anteontem no 6º DP (Cambuci), Célia disse que tentou abortar a criança tomando chá de canela.
Ela relata que depois de ter tomado o chá, voltou a menstruar e achava não estar mais grávida.
Célia afirmou que sentiu as dores do parto, às 23h30 de quarta-feira. Mais tarde, entre 3h e 4h, ao levantar para ir ao banheiro, a bolsa rompeu, e a criança caiu no chão.
Ela disse que decidiu jogar a criança no lixo por temer que seu pai não a aceitasse mais.
Foi até a cozinha, pegou uma tesoura, cortou o cordão umbilical, enrolou a criança num cobertor e a colocou no saco de lixo.
Em seguida, foi até a rua Júpiter, a duas quadras do prédio onde mora, e deixou o saco ao lado de uma árvore, pois achava que ali era tranquilo o suficiente para que alguém ouvisse o choro do bebê.

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