São Paulo, sábado, 5 de julho de 1997 |
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Cineastas ressuscitam câmera dos Lumiére na HBO
DA REPORTAGEM LOCAL "É apenas uma caixa", diz o cineasta francês Jacques Rivette no início do documentário "Lumiére and Company" (HBO, amanhã, às 18h, com reprise na segunda-feira, à 0h30). A caixa a que se refere é a máquina inventada pelos irmãos Lumiére e que, oficialmente, em 1895, deu origem ao cinema e cem anos depois voltou a registrar imagens pela ação de 40 cineastas.Uma das várias comemorações do centenário do cinema na França, o projeto propôs a vários diretores do mundo -nenhum brasileiro- que retomassem a máquina dos Lumiére e realizassem filmes de, no máximo, 60 segundos. Comparecem então Raymond Depardon, Win Wenders, David Lynch, John Boorman, Abbas Kiarostami ou Claude Lelouch, entre vários outros. Não se trata, a princípio, apenas de curtas-metragens feitos com o próprio fetiche, uma câmera sendo o objeto santificado da religião -o cinema- desses homems. O que se procura é ver o que os Lumiére antes já viram ou, em grande parte dos casos, as imagens que os próprios inventores do cinema jamais imaginaram. O francês Patrice Leconte exemplifica o caso levado a camêra para o mesmo lugar onde os Lumiére haviam filmado a chegada de um trem em uma estação. Mas, no rápido filme de Leconte, já não há uma lenta locomotiva e pessoas descendo de seus vagões. Leconte mostra um trem de alta velocidade e termina, de certa maneira, filmando o tempo. E é esse, quase de maneira invariável, o tom de todo o programa. Valendo-se da oportunidade rara, estar com o objeto "mágico" dos Lumiére nas mãos, os cineasta produzem uma arqueologia do próprio trabalho e tentam responder duas questões básicas: Por que filmar? O cinema está morrendo? Boorman visita as filmagens de "Michael Collins", de Neil Jordan. Kiarostami mostra um ovo fritando, o espanhol Vicente Aranda retoma a guerra civil espanhola, Claude Lelouch mostra um beijo sendo filmado, Spike Lee volta a câmera para sua filha e Theo Angelopoulos exibe o despertar de Ulisses em uma terra desconhecida. David Lynch, mais fiel a si mesmo do que a qualquer forma de homenagem, condensa em um minuto todo seu imaginário: os policiais, os crimes e o sexo perverso. Apesar das várias soluções apresentadas ao problema -o que, afinal, é possível filmar com a câmera dos Lumiére- o que resta de comum é a necessidade de reafirmar o cinema como uma das mais radicais experiências. E isso "Lumiére and Company" consegue. Hoje, excepcionalmente, a coluna de José Simão não é publicada. Texto Anterior: Orquestra gay de Londres é destaque em evento inglês Próximo Texto: Antonioni e a ampliação Índice |
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