São Paulo, sábado, 5 de julho de 1997
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Orquestra gay de Londres é destaque em evento inglês

Companhia sai às ruas hoje no Gay Pride da Inglaterra

DENISE BOBADILHA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LONDRES

Ninguém poderia imaginar que da colorida cena clubber londrina sairia a primeira orquestra gay oficial do planeta.
E os quase 90 músicos da London's Gay Symphony Orchestra fazem hoje um concerto especial: eles vão se apresentar para esperadas 250 mil pessoas que devem acompanhar o Gay Pride 97.
O evento, que acontece com uma semana de atraso em relação ao similar brasileiro, irá percorrer as ruas centrais de Londres.
Termina no parque de Clapham Common (sul) onde Erasure, Gina G. e Peter Andre, entre outras dezenas de artistas, misturam suas apresentações com tendas de clubes noturnos.
Onde nasceu a sinfônica
As danceterias representadas durante o evento, que geralmente vão pouco além da trinca tecno-dance-jungle, são ironicamente o berço da sinfônica gay.
Em meados de 96, quando o ex-bailarino e "músico por acaso" Robin Gordon Powell, 37 anos, se viu desempregado, desenterrou o sonho de fundar uma orquestra.
"Conhecia muitos gays que eram músicos de formação clássica", contou Powell em entrevista à Folha.
"Espalhei anúncios por jornais especializados e clubes gays procurando por pessoas interessadas em formar uma sinfônica e deu certo", lembrou.
Em maio do ano passado, a sinfônica foi fundada oficialmente. "Creio que 70% dos músicos da orquestra vieram do circuito clubber, que nós todos frequentamos normalmente", avalia Powell, cuja formação musical aconteceu na prática.
Concertos
Nos últimos oito meses, a London's Gay Symphony Orchestra fez cinco grandes concertos.
Num deles, em abril, tocou para mil pessoas. "No começo, as pessoas ficavam interessadas no nosso trabalho pelo inusitado. Ninguém sabe o que esperar de uma orquestra só de gays. Mas, depois de ouvir nossa apresentação, ninguém mais se lembra da homossexualidade."
Segundo Powell, os quase 90 musicistas da orquestra têm outros empregos, mas isso não tira a seriedade do grupo.
"Nós ensaiamos todas as semanas e o trabalho é levado extremamente a sério. Como em qualquer sinfônica."
Nos últimos meses, a orquestra passou a ganhar prestígio entre os acadêmicos.
"Alguns autores contemporâneos que não são gays estão compondo especialmente para nós. E músicos conceituados nos procuram para colaboração", comemora o regente.
Com novas composições, a orquestra entra no rol das privilegiadas que contam com um repertório exclusivo.
Além das peças contemporâneas, os concertos regidos por Powell atendem ao gosto do público médio, passando sempre por masterpieces de Mozart, Beethoven, Vivaldi e Tchaicovsky.
Para o Gay Pride, foi selecionado um repertório de peças curtas.
Regente era bailarino
Neto de um regente e filho de uma cantora de ópera, Robin Gordon Powell nasceu na Itália e mudou-se para Londres quando ainda era criança.
Depois de interromper as carreiras de bailarino e ator profissional por problemas de coluna, Powell mudou-se para a África do Sul.
"Estava sem trabalho e um amigo me ofereceu uma vaga para tocar numa orquestra", lembra. "Eu tocava piano muito bem, mas informalmente,e acabei aceitando", contou. O convite marcou a "virada" na vida do hoje regente.
Nos quatro anos seguintes em que viveu na África, Powell aprendeu a tocar outros instrumentos, integrou outras orquestras e chegou à regência.
A história de Powell não é comum na sinfônica gay: a maioria dos membros estudou música. Três deles trabalham integralmente para a orquestra.

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