São Paulo, sábado, 5 de julho de 1997
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Rita 97 é talento a ser descoberto

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um disco atrás, Rita Lee homenageou todas as mulheres do mundo. Agora, retroage e une todas numa só, Santa Rita de Sampa -ela própria. E a clave em que o faz é a do mais radical rock'n'roll.
Não é para menos. Rita Lee é -sempre foi- a grande roqueira brasileira, sucessora de Celly Campello e Wanderléa que tomou umas pitadas de Nara Leão e Gal e virou metralhadora de talento.
A auto-homenagem é, pois, mais do que justa -se todo mundo anda meio surdo, ela que se encha de louvores por si só. Bem, ela o faz pela velha via, de trocadilhos infames por segundo. Equipara-se a Camille Paspaglia, Joana Dark e que tais, e por aí a coisa vai.
Acontece que, em especial no que diz respeito à roupagem roqueira, Rita está mais séria do que nunca. Seu rock hoje é compenetrado, ortodoxo à Stones -nos 90, sinônimo de establishment. Rita já não se desfolha irreverente, transgressora como sempre foi.
"Ando Jururu", levada como heavy metal raivosinho assaltado pelos chatos Raimundos, espelha a retração da impagável Rita de 74, hippie, grávida, maconheira e extremamente feminina/feminista.
Ela talvez já não seja uma roqueira -a simpatia da bossa "Tum Tum", das toadas "O Que Você Quer" e "Longe Daqui, Aqui Mesmo" (aparentada de "Ambição", de 77) e da doce releitura de "Menino de Braçanã" comprovam.
O mesmo faz a estrambótica "Jardim de Allah", pop vagabundo tipo "Iê Iê Iê" (85) da maior qualidade. É um achado, a volta da Rita escondida desde "Noviças do Vício", com trocadilhos e tudo.
Pontos de fuga do rock'n'roll, são ilhas de inteligência na perda de prumo de que Rita padece desde meados dos anos 80. Mas a sensatez está toda aí: é nesses segmentos que Rita, confessional, revela que anda farta do rock'n'roll.
O que se avizinha, então, é a chegada -e "Bossa'n'Roll" (91) já caminhava nessa direção- de uma outra grande cantora de MPB (ou pop, no mínimo) ao cenário.
Mesmo aí, fazem-se perfeitamente dispensáveis o pedido de bênção a Caetano ("Homem-Vinho") e a citação indireta a "Sampa" ("Fruta Madura").
Rita Lee é, em 1997, um talento a ser explorado e descoberto, e não é qualquer quarentona que alcança tal prodígio. Peça de transição, "Santa Rita de Sampa" oferece pouco, mas o que oferece são belas promessas. Saúde, Rita. (PAS)

Disco: Santa Rita de Sampa
Artista: Rita Lee
Lançamento: PolyGram
Quanto: R$ 18, em média

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