São Paulo, sábado, 5 de julho de 1997
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Dia do Migrante

Dia do Migrante
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A comemoração do

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A comemoração do Dia do Migrante, 22/6, trouxe-nos à lembrança alguns dados do censo demográfico de 1991. Além do decréscimo de nossa taxa de crescimento populacional, percebemos mudanças na mobilidade interna.
Alterou-se a concentração urbana no Brasil, a qual, na década de 70, acusava um aumento de 4,9% ao ano e passou no período de 1980-91 para 2,6% ao ano.
Constata-se um fluxo migratório do centro das cidades para as periferias e das cidades maiores para as cidades vizinhas. O caso mais sintomático é o da Grande São Paulo, que possuía saldo migratório positivo de 2 milhões de pessoas nos anos 70/80 e inverteu o processo para um saldo negativo de 443 mil pessoas no período de 80-91.
No município de São Paulo a situação é ainda mais surpreendente, pois 756 mil pessoas, na década de 80, deixaram de residir na capital, fato considerado inédito em toda a história da cidade. E o fluxo continua, pois, nos últimos cinco anos (1991-1995), foram 103 mil moradores por ano a sair do município.
A análise dos sociólogos indica como uma das causas desse êxodo dos centros urbanos para a periferia a procura de moradia a preço menor.
O deslocamento de operários para cidades vizinhas é motivado pela expectativa de trabalho, uma vez que na capital várias indústrias encerraram suas atividades, optando por outras áreas.
Outro fator que explica a inversão do fluxo migratório é a maior complexidade da vida urbana, a violência e insegurança, a saturação do trânsito e o desgaste psicológico. Não raro surge nas famílias o anseio de voltar à zona rural, desde que possam encontrar os serviços de educação e saúde para os filhos.
A dificuldade de obter emprego no próprio lugar é agravada pela automação, exigência de maior preparo tecnológico e pela aplicação dos princípios neoliberais que levam a investimentos nas áreas de maior produção e lucro, onde é mais baixo o custo da mão-de-obra. A falta de trabalho fixo tem contribuído para a emigração de centenas de milhares de jovens brasileiros para os Estados Unidos e Japão e, por outro lado, para a multiplicação de subempregos e até para soluções desesperadas como o recurso ao narcotráfico e à delinquência.
A Pastoral dos Migrantes, diante desses fatos, faz um apelo às comunidades cristãs para que desenvolvam serviços de acolhida e acompanhamento dos que se vêem obrigados a esses deslocamentos. O apoio fraterno, especialmente nos primeiros meses, há de atenuar o sacrifício dessas famílias.
Mas além disso é necessário que a sociedade civil se sensibilize e incentive novas formas de organização e oferta de trabalho. Temos todos que cooperar para uma adequada política nacional de empregos e moradia.
Por iniciativa da CNBB estão sendo convocadas neste ano semanas sociais nas dioceses e regiões para estudar o resgate das dívidas sociais e como promover a justiça e solidariedade na construção de uma sociedade democrática.
O fruto desses encontros há de convergir, em nível nacional, para a 3ª Semana Social em setembro de 1998. À luz do Evangelho, pertence à missão da igreja cooperar para que todos tenham condições dignas de trabalho e vida familiar.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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