São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Japão congela investimento na Tailândia

GILSON SCHWARTZ
ENVIADO ESPECIAL À TAILÂNDIA

Depois de liderarem o financiamento privado ao milagre tailandês, os japoneses foram os primeiros a anunciar, após a desvalorização do baht, que podem colocar seus projetos de longo prazo na gaveta. Na sexta-feira, a Japan External Trade Organization (Jetro) divulgou relatório em Bancoc, com base em consultas a 16 empresas japonesas com investimentos na Tailândia, oficializando a desconfiança de empresários nipônicos.
No mesmo dia, o ministro das Relações Exteriores da Tailândia, Prachuab Chaiyasan, anunciou que em no máximo duas semanas ele e o ministro das Finanças, Thanong Bidaya, farão uma visita oficial ao Japão para explicar as medidas e aumentar a confiança no futuro da economia tailandesa.
Prachuab negou que o objetivo da viagem seja obter novos empréstimos para defender a moeda. Segundo a Jetro, a principal preocupação das multinacionais japonesas é com a inflação e com os aumentos salariais que deverão ocorrer a partir de agora. As previsões de inflação anual passaram a 10% depois da mudança cambial. A expectativa era de inflação de cerca de 6% e aumento de 25% nos investimentos japoneses em 97. Outros projetos estão sendo cancelados. O Grupo NTS Steel cancelou investimentos anunciados de 15 bilhões de bahts, que seriam viáveis apenas com mais endividamento externo. A empresa declarou que já não há mais condições de obter esses recursos. O preço do aço seve subir nos próximos dias na Tailândia. Amanhã, as autoridades se reúnem para fazer um balanço da crise e examinar novas medidas compensatórias.
Alguns projetos de grande porte, como o Global Transpark, de mais de 4 bilhões de bahts, estão ameaçados. As previsões de déficit público também terão de passar por uma revisão, pois a recessão abalará a arrecadação enquanto a dívida externa das estatais aumenta.
O Ministério das Finanças fez um comunicado na última sexta-feira propondo a venda de estatais para reduzir o déficit público neste ano. Os gastos públicos em infra-estrutura de transportes, energia e comunicações devem ser afetados, pois dependiam fortemente da captação de recursos externos.
Rede de apoio
A participação da Tailândia na rede emergente de economias em crescimento é, ainda, a melhor garantia de que a crise não será catastrófica e de que os bancos centrais da região vão continuar cooperando com o governo para limitar a crise cambial.
A Tailândia é membro da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) e defende a Afta (Associação Asiática de Livre Comércio). O país também está integrado a outros importantes projetos regionais de longo prazo, os chamados "triângulos de crescimento", além de megaprojetos específicos, como o empreendimento multinacional de desenvolvimento ao longo do rio Mekong.
Vietnã
Individualmente, a Tailândia tem sido um dos mais importantes atores na reconstrução econômica do Vietnã.
As empresas tailandesas têm transferido suas fábricas para o Vietnã em busca de custos menores e para aproveitarem o momento de amplo interesse de outros governos e multinacionais na promoção da economia vietnamita. Mas essa integração também provoca temores de que o efeito de contágio da crise tailandesa sobre outras economias no Sudeste Asiático enterre de vez o mito do "milagre asiático" e do surgimento de ondas sucessivas de "tigres".

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