São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Teste definitivo do PRI é só em 2000

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Por mais que a questão política (a entrada do México em um sistema de fato democrático) seja central na eleição de hoje, o modelo neoliberal também está em jogo.
Mas o efeito sobre ele só será eventualmente sentido no ano 2000, quando o país elegerá o sucessor de Ernesto Zedillo.
"A perda de poder pelo PRI, seja na Cidade do México, no Congresso ou em ambos, não seria necessariamente traumática", avalia o banco de investimentos WestMerchant, em relatório de maio.
Por quê? Responde o banco: "Mesmo que quisesse, a oposição não seria capaz de promover grandes mudanças na política econômica e, menos ainda, de reverter o processo de reformas".
Não seria capaz porque a grande vitória oposicionista, pelo menos a que se desenha nas pesquisas, limita-se à Prefeitura da Cidade do México, de alcance simbólico enorme, mas de reduzido efeito prático sobre as políticas governamentais.
No Congresso, o PRI manterá a maioria no Senado, até porque só estão em jogo 28 dos seus 132 lugares.
Pode até perder a maioria que tem hoje na Câmara, portanto, que o Senado bloqueará reformas mais profundas.
Além disso, uma eventual maioria oposicionista não será homogênea: o principal rival do PRI não é, mostram as pesquisas, o PRD, de centro-esquerda, mas o PAN (Partido de Ação Nacional, de centro-direita).
O abalo ao poder do PRI virá, principalmente, do fato de que Cuauhtémoc Cárdenas, franco favorito para ganhar a Prefeitura da Cidade do México, se tornará um candidato viável para a Presidência no ano 2000.
Cárdenas é filho de Lázaro Cárdenas, talvez o mais carismático dos presidentes gerados pelo PRI, responsável pela nacionalização das companhias petrolíferas e pelo relançamento da reforma agrária.
Somando essa herança à exposição à mídia que lhe dará o governo da Capital, pela primeira vez decorrente de eleição direta, Cárdenas poderá vingar-se das duas derrotas que já sofreu nas suas tentativas de ocupar o lugar que foi do pai.
Por enquanto, o programa do PRD de Cárdenas (uma cisão do PRI, aliás) não é essencialmente diferente dos demais partidos.
Mas, até o ano 2000, ficará mais claro se, no modelo atual, o México pode ou não recuperar-se definitivamente da crise que quase o destruiu em 94/95 e, ainda por cima, corrigir as mazelas sociais.
São elas -e não a crise do peso de 94- que explicam o surgimento, aparentemente extemporâneo, de movimentos guerrilheiros como o do Exército Zapatista de Libertação Nacional, no pobre Estado de Chiapas, ou o do Exército Popular Revolucionário, no não menos conflituoso Estado de Guerrero.
A sobrevivência dos dois grupos sugere que os 70 anos de poder do PRI não apenas produziram um profundo déficit democrático, mas também deram sobrevida ao grito de guerra dos revolucionários de 1910, que era "Tierra y Libertad".
(CR)

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