São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Avanço no Brasil é lento, diz pesquisadora

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Colocado em 58º no ranking do IPG, o Brasil tem uma posição no ranking de poder feminino que está aquém da amplitude de seu movimento feminista. É a opinião de Lena Lavinas, pesquisadora do Ipea e especialista no estudo dos direitos das mulheres.
"O Brasil tem um movimento de mulheres grande e 'capilarizado'. Ele está conseguindo ampliar os direitos das mulheres, mas a velocidade para alcançar esses benefícios é extremamente lenta", afirma a pesquisadora.
Ela cita o aumento da participação feminina no mercado de trabalho. "Ela cresce, mas lentamente". Pelos dados do Pnud, as mulheres brasileiras detêm 35% das vagas, mas apenas 29% da renda.
Essa disparidade entre ocupação e participação nos rendimentos vindos do trabalho não é uma característica brasileira.
O Relatório para o Desenvolvimento Humano anota que, nos países em desenvolvimento, o salário feminino é 3/4 do masculino.
A discrepância atinge também os países desenvolvidos. No Japão, por exemplo, pouco mais de 5% dos homens são classificados como mal remunerados. Entre as mulheres japonesas, essa taxa ultrapassa 35%, aponta o relatório.
No lado da participação política, a França é, entre os países industrializados, o que apresenta a maior disparidade entre desenvolvimento humano e poder por gênero. O país é o 2º no ranking do IDH e 40º no do IPG.
As francesas vivem, em média, 8,7 anos a mais do que os franceses. E 99% delas são alfabetizadas.
Mas, na hora de participar da vida política, seu desempenho é inferior ao das mulheres de Serra Leoa, país que detém o mais baixo desenvolvimento humano do mundo. As francesas só ocupam 6,1% das vagas no Parlamento.
Lena Lavinas, que já trabalhou na França, atribuiu essa discrepância ao sistema político, que permite a acumulação de vários cargos e mandatos por quem está no poder. Isso impede a rotatividade e a entrada das mulheres na política.
Vários países latinos apresentam uma taxa de participação feminina no poder proporcionalmente inferior ao seu grau de desenvolvimento humano.
O Chile, por exemplo, é o mais bem colocado latino-americano no ranking do IDH: 30º. Mas é o 57º em IPG.
"As ditaduras e a militarização da política durante muitos anos dificultou a participação da mulher na política na América Latina", diz Lena.
Ela acha que o estabelecimento de cotas para mulheres nas eleições proporcionais (vereadoras, deputadas) podem ajudar a reverter isso. "As cotas em si não mudam nada. Mas aumentam a discussão e mudam a atitude dentro dos partidos", avalia.
(JRT)

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