São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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"Não me abandonem", pede presidente aos deputados

AUGUSTO GAZIR
ENVIADO ESPECIAL A BOQUIM (SE)

O presidente Fernando Henrique Cardoso pediu ontem aos deputados que não o "abandonem" e aprovem no Congresso as reformas propostas pelo governo. FHC atacou ainda os servidores públicos "ineficientes".
"Vou fazer um apelo aos deputados de Sergipe: não me abandonem, não abandonem o povo do Brasil", disse FHC.
Na votação da quebra da estabilidade do servidor, na última quarta-feira, só um dos oito deputados da bancada de Sergipe votou a favor do governo.
"Em certos momentos, é preciso ter coragem. É preciso não ouvir só o lobby, aqueles que estão organizados para defender vantagens. É preciso pensar nas mudanças necessárias", completou FHC, sob aplausos, para uma platéia de servidores públicos.
FHC participou em Boquim (90 km de Aracaju) do encerramento da reunião dos chamados "agentes de desenvolvimento", técnicos do Banco do Nordeste que trabalham com produtores rurais.
Para FHC, o administrador público tem que poder "separar o joio do trigo, porque o povo não aguenta mais carregar uma enorme quantidade de pessoas (servidores) que não são eficazes".
"Quem é bom deve ser premiado. Quem é mau deve ter uma tentativa de recuperação, uma, duas, três... Mas, depois, que vá trabalhar por conta própria e não fique pesando nos impostos que a população paga", afirmou o presidente.
Ele defendeu a "convergência" entre os partidos. Disse que o "povo" não quer os partidos "brigando por questões menores", e sim unidos por "objetivos maiores".
FHC atirou também nos bancos, ao comentar a dificuldade do produtor rural com as técnicas bancárias. "O povo não sabe entrar no banco. E mesmo os que não são do povo têm medo de entrar no banco, porque deles saem escalpelados muitas vezes, pelas taxas de juros e incompreensões."
Manifestação
Na visita a Boquim, cidade que vive da produção de laranja, o presidente foi presenteado por um produtor rural, visitou indústria de polpa de frutas e assinou convênios e decretos de desapropriação de terra durante comício.
Cerca de 20 manifestantes ligados ao PC do B vaiaram e xingaram FHC na praça onde se realizou o comício. Segundo a Polícia Militar, havia mais 60 pessoas que foram barradas na entrada do local.
FHC, durante discurso para cerca de 1.500 pessoas (segundo a PM), chamou de "inimigos de Sergipe" os militantes do PC do B. "São tão poucos nesse mar de sergipanos contentes com o Brasil."
"Eles não são nada. Deixe que gritem, faz bem. Se pularem, faz bem para a saúde", disse FHC.
O presidente fez promessas e ouviu reivindicações. Afirmou que iria recuperar os portos e rodovias nordestinas e melhorar o abastecimento de água e energia da região.
"Antes de terminar o mandato, quero voltar ao Nordeste -não adianta falar agora, é cedo- para mostrar o que fizemos (de melhorias na região)", disse.
Para ele, a população é "paciente quando percebe que o governante está agindo de boa fé".
O prefeito de Boquim, José Trindade (PSB), pediu a FHC a inclusão do município no programa de bolsa-escola do governo.
Segundo Trindade, a exemplo do que ocorre em canaviais pernambucanos e carvoarias do Mato Grosso do Sul, há trabalho infantil nos laranjais de Boquim. FHC prometeu levar o programa ao município, quando houver recursos.

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