São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997
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Morte de Luther King pode ter nova versão

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

Novos testes comparando as balas do rifle que teria sido usado para matar Martin Luther King indicam que elas não combinam com as marcas encontradas no corpo do ativista negro, assassinado em 1968.
O resultado da análise, que foi divulgado publicamente pelo juiz Joseph Brown, em Memphis, no Estado do Tennessee, está sendo utilizado pelos advogados de James Earl Ray, 69, que requerem um julgamento para seu cliente.
"O resultado não nos surpreende. A espessura do buraco provocado no corpo de Martin Luther King não bate com o que seria causado pelas balas do rifle do meu cliente", disse William Pepper, advogado de Ray.
"Não é de hoje que dizemos que a condenação foi feita sem provas suficientes. É hora de o caso ser revisto e de descobrirem os verdadeiros culpados", afirmou William Pepper, advogado de Ray.
Apesar do resultado, a defesa de Ray pediu ao juiz que faça nova bateria de testes. "Queremos que todos os detalhes fiquem claros, que não sobre uma dúvida que seja de que o rifle encontrado não foi a arma do crime", disse Pepper.
Joseph Brown deve atender o pedido. "O quadro ainda não está completo", disse o juiz do caso.
Confissão e recuo
Acusado pela morte de Luther King, Ray chegou a confessar o crime para evitar ser condenado à morte. Mas, três dias depois, voltou atrás em suas declarações, negando ter atirado no líder negro.
Uma das principais evidências de que Ray teria cometido o assassinato foi o fato de a polícia ter encontrado o rifle que lhe pertencia, com suas impressões digitais, perto do local do crime.
No ano seguinte à morte de Luther King, James Earl Ray foi condenado a 99 de prisão.
Logo depois do assassinato, o FBI (polícia federal) e um comitê formado para analisar o crime já haviam comparado as balas do rifle de Ray com as marcas provocadas no corpo do morto.
Em 1978, porém, mesmo que os testes não tivessem conseguido provar cientificamente que fora a arma de Ray a usada para matar Luther King, o comitê concluiu que o suspeito havia mesmo cometido o crime.
Na ocasião, o relatório final sobre o assassinato indicava que Ray poderia ter recebido ajuda nos momentos anteriores ou subsequentes ao atentado, mas eventuais cúmplices não chegaram a ser descobertos.
"Temos de nos perguntar o que provocou tanto interesse em condenar uma pessoa sem provas suficientes de que ela fosse a culpada", disse o representante de Ray. "Os verdadeiros culpados usaram meu cliente. Ele foi o bode expiatório", acrescentou.
Em entrevistas a emissoras de TV, William Pepper insinuou mais de uma vez que pode ter havido um complô do governo norte-americano para matar Luther King.

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