São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997
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A muleta das reformas

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Sem as famosas reformas (do Estado, previdenciária etc), o país naufraga.
É esse o samba de uma nota só que o governo federal vem entoando desde que assumiu, embora, nos cada vez mais raros momentos em que não está deslumbrado, o presidente Fernando Henrique Cardoso reconheça que as reformas não são a panacéia universal.
Muito bem. Carta no "Painel do Leitor", dias atrás, assinada por Luciana Viegas (RS), observava que o governador Mário Covas (SP) demitiu 105 mil funcionários públicos.
Como se supõe, completa a leitora, que o fez dentro da lei, fica evidente que não precisou nem de reformas na Constituição estadual nem esperou pelas reformas da Carta federal.
Faltou observar, ainda, que o governo Covas também zerou o déficit público estadual, apesar de ter recebido o caixa virtualmente a zero.
O pressuposto das reformas federais é exatamente o de que, sem elas, não há como equilibrar as contas públicas.
Os números de Covas, que pertence, é sempre bom lembrar, ao mesmo partido de FHC, desmentem a teoria, que, mais do que teoria, virou obsessão da equipe federal.
É claro que demissões e equilíbrio orçamentário não ajudaram em nada a popularidade do governador paulista, como demonstram todas as pesquisas mais recentes.
Mas, se o objetivo é equilibrar as contas, o exemplo de São Paulo prova que é possível alcançá-lo sem reformas constitucionais.
Elas podem até ser necessárias, mas fica a nítida sensação de que a palavra reformas se transformou em uma muleta tanto para o governo central como para empresários e alguns intelectuais, desses dispostos a ecoar os pontos de vista dos poderosos de turno.
Ficou vazia de conteúdo, além de estar custando uma barbaridade em matéria de fisiologismo, aquele mesmo fisiologismo que o presidente, quando candidato, decretou que havia acabado.

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