São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 1997
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Melhora vida de aidéticos do país

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Doentes de Aids que estão retomando suas atividades graças à terapia combinada devem enfrentar uma segunda onda de discriminação. Pacientes que tinham se aposentado, que abandonaram seus projetos e que esperavam para morrer terão dificuldades para voltar ao mercado de trabalho e para sobreviver.
O alerta foi feito por Jorge Adrian Beloqui, do Grupo de Incentivo à Vida (GIV), no debate promovido na semana passada pela Folha e pela "'Revista USP". Segundo Beloqui, esses doentes que estão recuperando a saúde dificilmente terão de volta seus direitos e o lugar que ocupavam no mercado de trabalho.
"A volta à realidade será mais difícil", afirmou Beloqui, que é professor de matemática da USP, representante das ONGs na Comissão Nacional de Vacinas e ele próprio portador do vírus HIV.
O debate marcou o lançamento da edição da "Revista USP" dedicada à Aids (leia texto abaixo). O futuro dos "sobreviventes" da epidemia é o lado preocupante de uma constatação animadora: a de que a distribuição do coquetel de medicamentos pelo governo está recuperando doentes e melhorando sua qualidade de vida.
No debate, o coordenador do Programa Nacional de Aids, Pedro Chequer, garantiu que não faltarão remédios e que a distribuição será ampliada de acordo com consensos médicos.
Segundo ele, o programa de Aids está reivindicando R$ 800 milhões só para a compra de remédios antiretrovirais este ano -dez vezes o total de gastos do programa no ano passado.
"O que preocupa são os contornos que a epidemia está ganhando: cada vez mais presente entre as mulheres, entre os heterossexuais, entre os jovens e entre os pobres", disse Chequer.
A tendência torna mais difícil a prevenção e a manutenção das terapias. O infectologista Caio Rosenthal disse no debate que o abandono do tratamento pode levar ao aparecimento de cepas mais virulentas do vírus, "monstros de HIV" resistentes a todos os medicamentos. "As pessoas mais simples têm dificuldade em seguir um tratamento com 20 cápsulas que exige horários e alimentação adequada."
A solução pode estar nas novas gerações de medicamentos, que exigem doses menos frequentes. Uma delas, a ABT-378, pode estar disponível em dois anos. "Ela promete ser dez vezes mais potente e com menores efeitos laterais", disse Irapuan de Oliveira, do laboratório Abbott.

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