São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 1997
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Má formação dos médicos

GIOVANNI GUIDO CERRI

A exemplo de outras áreas do conhecimento, a formação dos médicos no Brasil passa por um momento difícil, com excesso de procura, escolas desaparelhadas, programas deficientes e mão-de-obra disponível que já supera em muito a expectativa do mercado.
Enquanto os setores mais responsáveis da comunidade erguem vozes contra a situação, demonstrando preocupação com a qualidade do médico, com a valorização dos currículos e dos cursos de medicina, outros setores defendem a abertura de novas escolas, com justificativas simplistas, onde já há um excesso de profissionais.
Esquecem, governo e empresários, que, no processo de formação, não bastam vontade, edifícios, laboratórios, equipamentos e instalações. Não basta formar o médico. Há muito mais em jogo. E um dos pontos básicos é a qualidade do atendimento. Portanto, é preciso olhar adiante e se ocupar da preparação do médico-residente, o profissional que "carrega o piano" até concluir sua pós-graduação e integrar-se ao mercado.
Esse profissional, que precisa do trabalho para aprender, recebe uma formação deficiente, mas é lançado como produto final. Cabe a ele arcar com o dia-a-dia de muitos prontos-socorros, clínicas e hospitais, sem que a sua faculdade tenha lhe oferecido o mínimo.
De um lado está o Ministério da Educação, que gerou a LDB, que prevê a autonomia universitária e permite a abertura dos cursos; de outro, os reais interesses da comunidade. A quem interessa um médico despreparado?
Hoje, com a sofisticação dos recursos tecnológicos, a evolução da informação e da pesquisa médica, não se admite oferecer tal nível de formação para os nossos médicos.
É preciso criar instrumentos que possibilitem ao médico um aprendizado adequado, com acompanhamento de profissionais preparados. O período de residência médica é decisivo.
Se o governo quer resolver os problemas de saúde, não basta criar as CPMFs, mas olhar com seriedade para o aprendizado do médico. Recentemente, deu um passo importante com o decreto 2.207, que disciplina a abertura de faculdades de medicina e odontologia. Já é um avanço. Não basta.
Os empresários que já atuam nessa área, ou os que pretendem abrir novas escolas médicas, devem encarar seu papel social e oferecer os mesmos recursos das escolas públicas. Seus alunos devem ser submetidos à mesma avaliação e ao mesmo rigor. Que os conselhos de medicina tenham poder para avaliar os recém-formados e competência para autorizar o exercício da profissão.

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