São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 1997
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Para governo, crise na Ásia foi pretexto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, disse ontem que a crise do Sudeste Asiático serviu de pretexto para que investidores fechassem suas operações nas Bolsas de Valores brasileiras.
"Os problemas da Ásia deram um pretexto bastante conveniente para essa realização de lucros", afirmou.
A avaliação do ministro Antonio Kandir (Planejamento) é parecida. Segundo ele, a queda nas Bolsas aconteceu porque investidores que tiveram prejuízos em outros locais venderam ações para realizar lucro no Brasil.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, também disse que "não há nenhuma razão para que ocorra no Brasil um ataque ao real" em razão da crise na Ásia.
"O presidente Fernando Henrique Cardoso está absolutamente tranquilo, como está também a área econômica", disse Amaral.
"A Bolsa cresceu extraordinariamente bem este ano e é até normal e plausível que os investidores, que são especuladores, estejam realizando os seus lucros. O fato é que todos os outros mercados estão em absoluta tranquilidade", disse Amaral.
O diretor de Política Monetária do BC, Francisco Lopes, disse que "só um louco pode achar que um ataque especulativo contra um BC como o nosso poderia dar certo".
"O BC lamenta que eventos internacionais tenham sido usados por terceiros para transferência de renda. Achamos que nossa posição é muito segura", afirmou.
Na opinião de Rui Modenesi, secretário-adjunto de Política Econômica da Fazenda, a queda nas Bolsas foi gerada por especulação. "Aproveitam oportunidades, como as notícias do Sudeste Asiático, para realizar lucros", comentou.
Diferenças com a Ásia
Para Loyola, a economia brasileira tem estrutura bem diferente da dos países asiáticos. A forma de financiamento, a composição e a perspectiva futura do déficit externo são distintas e colocariam o Brasil em uma posição melhor.
O presidente do BC disse também que a queda das Bolsas de outros países latino-americanos -como, por exemplo, Argentina, México e Peru- não é um reflexo da queda das ações no Brasil.
O mercado atribuiu essa queda ao "efeito samba", isto é, ao desempenho das Bolsas no Brasil. Em tom de brincadeira, ele disse que o único "efeito samba" que conhece é o samba da cantora Beth Carvalho que "acordou" o robô que está em Marte.
"Hoje existe uma globalização e os mercados têm conexão entre si. Na nossa visão, embora a crise tenha atingido mais de um país, o efeito multiplicador sobre o Brasil é insignificante ou muito baixo."
Para o ministro do Planejamento, "determinados investidores precisam vender ações para realizar lucros. É um movimento normal", afirmou.
Kandir disse que na crise mexicana de 1995 houve problemas num primeiro momento e a comunidade financeira internacional encontrou uma solução.
Segundo ele, o Brasil só poderia ser prejudicado se a crise durasse muito tempo e mudasse o cenário econômico internacional -e não por ser um país de economia emergente -como os asiáticos.
Segundo Kandir, Tailândia, Indonésia e Filipinas não têm um programa de privatização como o brasileiro, que pode render R$ 79 bilhões.
Além disso, a situação fiscal do país está em constante melhora e o déficit das contas externas é financiável, argumentou.

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