São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 1997
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Twyla Tharp deve trazer novo espetáculo ao Brasil

ANA FRANCISCA PONZIO
ENVIADA ESPECIAL A MONTPELLIER

Ao estrear o espetáculo "Tharp!" semana passada, no Festival de Dança de Montpellier (França), a coreógrafa norte-americana Twyla Tharp marcou sua volta aos palcos franceses e também sua retomada internacional.
Uma das coreógrafas mais brilhantes da dança moderna dos Estados Unidos, Tharp desfez seu grupo há quase dez anos. Pouco antes, a Twyla Tharp Dance Company havia participado no Brasil do Carlton Dance Festival.
No período que se seguiu, Tharp tornou-se free-lance, trabalhando como convidada de companhias como o American Ballet Theatre (ABT), de Nova York, e o Royal Ballet de Londres.
Há pouco mais de um ano, Tharp formou novo grupo (com 12 jovens bailarinos escolhidos em uma concorrida audição em Nova York), criou o espetáculo "Tharp!" (que reúne três peças), para em seguida iniciar uma turnê internacional que pode incluir o Brasil, em abril do próximo ano.
Anunciada a volta, os convites voltaram a chover. De 26 a 29 deste mês, a Twyla Tharp Dance Company estará se apresentando em Paris, no Palais Royal, como atração do Festival de Verão.
Nos primeiros dias de agosto, o grupo apresenta "Tharp!" em Berlim (Alemanha), seguindo depois para o Festival Internacional de Edimburgo, na Escócia.
Segundo Timothy Grassel, diretor de turnê da companhia, "Tharp!" será apresentado em Santiago do Chile em abril de 1997. "Aproveitando a estada na América do Sul, é possível que o espetáculo seja mostrado também no Brasil", disse ele à Folha.
Irascível, Tharp odeia dar entrevistas, comportando-se como uma espécie de Greta Garbo da dança. Quase sempre, é seu elenco que a representa nas coletivas.
Não foi diferente no Festival de Montpellier, que não contou com sua presença, apesar da grande expectativa que cercava a estréia.
Embora seja considerada um dos gigantes da dança moderna norte-americana, Tharp conseguiu ficar à margem dos patrocínios oficiais dos Estados Unidos, graças a seu temperamento difícil.
Ao se indispor com instituições que garantem subvenções às artes, acabou sem condições de manter o próprio grupo. Tal situação coincidiu com uma fase árdua para os artistas norte-americanos, que nos últimos anos vêm enfrentando uma retração de patrocínios.
Tudo indica que, agora, há uma disposição para que esta situação se reverta -o que não significa que Tharp abandonará a rebeldia.
"Tudo o que era 'não' se tornou 'sim' para mim", ela relatou em sua autobiografia, "Push Comes to Shove", lançada em 1992.
Com esta frase, Tharp resume sua decisão de se colocar na contracorrente do movimento pós-moderno, que marcou sua geração, produzindo nomes como Trisha Brown.
Apesar da força do pós-modernismo, que nos anos 60 defendia uma dança de caráter minimalista, Tharp resolveu ser minoria.
"Os pós-modernistas eram puritanos, porque rejeitavam o prazer do desafio, ao negar o virtuosismo do movimento. Há uma boa razão para o público gostar de proezas virtuosísticas: elas apresentam o drama do corpo sendo desafiado em seus limites físicos."
Para desenvolver uma linguagem que se tornou símbolo da cultura norte-americana -misto de dança clássica, contemporânea e jazz-, Tharp se expôs a múltiplas expressões coreográficas.
No início da carreira, procurou conhecer todos os criadores que faziam Nova York fervilhar -nomes como Paul Taylor, Jerome Robbins (autor de "West Side Story"), Alvin Ailey e até mesmo Lennie Dale, que ainda não havia se mudado para o Brasil.
"Entre todos, absorvi especialmente as técnicas de Martha Graham e Merce Cunningham", reconheceu. Mais tarde, o bailarino Mikhail Baryshnikov, que realizou com Tharp a mais bem-sucedida parceria da carreira de ambos, assim definiria o estilo dela:
"Que vocabulário refinado e incrivelmente difícil ela tem! Ao dançar as coreografias de Twyla, sinto-me em pleno mar, num barco sem vela."

A jornalista Ana Francisca Ponzio viajou a Montpellier a convite do evento "Comfort em Dança".

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