São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 1997
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Coreografia é autobiográfica

ANA FRANCISCA PONZIO
DA ENVIADA ESPECIAL

Novo espetáculo é autobiográfico
O espetáculo que inaugura a nova fase de Twyla Tharp reúne três coreografias recém-criadas, de cunho autobiográfico, que procuram compor uma espécie de celebração da América.
"Tharp!" começa com "Heros", sobre música de Philip Glass, inspirada no álbum homônimo de David Bowie. "O heroísmo reside entre a determinação e a oposição", afirma Tharp sobre esta coreografia, que possui como movimento-chave o salto de uma bailarina contra um "muro" humano que ela tenta transpor.
"Não há uma unidade entre as três peças, mas uma progressão dramática", explica Tharp. Após "Heros", o novo espetáculo prossegue com "Sweet Fields". Ao som de música coral do século 18, esta peça se inspira na tradição "shaker" americana (religião que pratica o celibato).
"Em 'Sweet Fields', mostro personagens vulneráveis, que buscam sua força na religião. Foi minha origem quaker que me levou a este tema", diz Twarp.
Para encerrar o espetáculo, ela compôs "66", sobre canções norte-americanas dos anos 30 a 50 e cujo estilo faz lembrar uma das obras mais populares da coreógrafa, "Nine Sinatra Songs", de 1982.
"66" refere-se à famosa rota americana, que nos anos 40 tornou-se a principal via para o oeste.
Foi às margens da Rota 66 que a família de Twyla Tharp construiu um drive-in, onde a coreógrafa descobriu, durante a infância, as comédias musicais de Hollywood e os desenhos animados da dupla Tom e Jerry.
Tendo como principais personagens um casal e um homem que viaja dentro de um grande pneu, "66" possui o humor e a sensualidade que caracterizam várias criações do repertório de Tharp, que soma mais de 100 obras.
Nestas três peças, a linguagem eclética e sem fronteiras da coreógrafa também se estende à música.
"Toda manhã, começo meu trabalho no estúdio improvisando sobre músicas de todo tipo, que podem ser renascentistas, Bunrako, Bach, obras românticas, jazz ou Webern. A energia do som produz um espectro de cores sobre as quais procuro encontrar movimentos equivalentes ou contraditórios", comenta Tharp.
O programa que marca a atual fase de Tharp, no entanto, revela a fragilidade de um recomeço apegado a fórmulas já conhecidas, somadas a um elenco que esbarra no exibicionismo técnico, sem maturidade interpretativa.
Embora a retomada de Tharp mereça ser comemorada, espera-se que ela volte a surpreender, valendo-se do ecletismo que lhe permitiu realizar coreografias tanto para os palcos da Broadway como para o cinema.
Em parceria com o compositor David Byrne, que depois tornou-se um de seus companheiros conjugais, Tharp realizou em 1981 o musical "The Catherine Whell".
No cinema, criou as coreografias dos filmes "Hair" (1978), "Ragtime" (1980) e "Amadeus" (1984), todos do diretor Milos Forman.
O auge de sua carreira, contudo, foi quando coreografou para Mikhail Baryshnikov, amigo, amante e parceiro de vários sucessos, entre outros o especial para a televisão "Baryshnikov by Tharp", que ganhou dois prêmios Emmy.
(AFP)

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