São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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PC quis comprar deputados, diz advogado

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL À ARGENTINA E AO URUGUAI

Um dia antes da votação da abertura do processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello na Câmara, em setembro de 1992, o empresário Paulo César Farias ordenou o saque de US$ 5 milhões de uma conta no Uruguai. O dinheiro foi transportado até Brasília para que fossem comprados votos de deputados para barrar o impeachment.
Essa afirmação foi feita em depoimento a autoridades italianas em outubro do ano passado, em Buenos Aires, na Argentina, por um dos titulares da conta de onde saíram os US$ 5 milhões, o advogado argentino Luis Felipe Ricca, apontado pela Polícia Federal como testa-de-ferro de PC Farias.
Em Buenos Aires, a Folha teve acesso ao depoimento de Ricca. "(A) finalidade (do saque), segundo me disse o doutor Farias, (era) pagar os votos de deputados que iriam votar o julgamento político e fazer com que a votação não fosse contrária a Collor de Mello", disse o advogado argentino, em trecho do depoimento.
As autoridades italianas foram atrás do depoimento de Ricca em Buenos Aires porque suspeitam que os US$ 5 milhões sejam originados de negócios de narcotráfico do tesoureiro do ex-presidente Collor com a máfia italiana, revelados pela Folha em março passado.
Por intermédio de seu escritório em Buenos Aires, Ricca afirmou que não vai comentar o relato que fez à Justiça italiana sobre o saque dos US$ 5 milhões -que equivalem a 25 vezes os R$ 200 mil que Ronivon Santiago, ex-deputado do Acre, disse ter recebido para vender seu voto pró-reeleição.
O dinheiro foi sacado, em "cash", de uma conta na agência do Hollandsh Bank Unie em Montevidéu, no dia 28 de setembro de 92, um dia antes do julgamento político de Collor na Câmara, conforme demonstra comprovante de extrato enviado à Itália pelo Justiça uruguaia.
Em Montevidéu, a reportagem depositou US$ 50 nessa conta -registrada sob o código Monte Tiberino e o número 5020050-, comprovando que ela está sendo movimentada até hoje por Ricca e La Salvia.
Os documentos da investigação feita pela Justiça da Itália -incluindo o depoimento de Ricca e o comprovante do saque de US$ 5 milhões no Uruguai- já foram pedidos formalmente pelo Brasil.

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