São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Modelo político tem raízes coronelistas

Estado sempre representou guarda-chuva das elites

FERNANDO JOSÉ DE LIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O modelo político adotado em Alagoas tem raízes no coronelismo e vem sofrendo apenas pequenas modificações. De um consenso restrito a uma pequena fração da população está orientado para atender os desejos e aspirações das elites, provocando um forte processo de exclusão social, que marginaliza o grosso da população da riqueza gerada no Estado.
Esse poder político, em face de suas alianças com o poder regional e nacional, ainda é muito forte em Alagoas. Mas é, na verdade, limitado nas suas possibilidades de propor um projeto econômico e social amplo e irrestrito, que elimine os principais pontos de estrangulamento que impedem as transformações estruturais necessárias ao desenvolvimento sustentado nos novos paradigmas que norteiam a economia brasileira.
Em Alagoas, o Estado sempre representou o grande guarda-chuva protetor de suas elites. Assim, após sua emancipação, a elite capturou o poder público num processo que quase se confunde com ele, utilizando-o e sendo acobertada por seu manto protetor. Desse modo, os recursos federais e estaduais são apropriados e controlados com o intuito de manter seus interesses econômicos e políticos.
Assim, essa elite faz valer o poder que possui para serem eles os primeiros beneficiários da política dos governos federal, estadual e municipal. Ao definirem seus interesses, passam à sociedade a visão de que os maiores beneficiários de suas reivindicações são as pessoas necessitadas, fazendo a população pobre e analfabeta acreditar que sem eles estariam todos perdidos.
Alagoas, mesmo possuindo um grande potencial agrícola, turístico, de recursos naturais e humanos e crescendo a taxas elevadas no período de 1939 a 1994, exibe os piores indicadores sociais. Na década de 70, quando os investimentos eram altos, apresentava um quadro social sombrio.
Todavia essa situação se agrava a partir do início dos anos 90, quando o Estado brasileiro começa a dar sinais evidentes de esgotamento. Alagoas, que registrava taxas de crescimento do seu Produto Interno Bruto semelhantes às taxas alcançadas pelo país, começa a ver seu padrão de crescimento profundamente afetado, pois falta-lhe visão estratégica, que procure resolver os problemas estruturais com as alternativas de políticas econômica e social que esses problemas exigem.
Em 1995, com a abertura comercial, a reestruturação produtiva do setor privado, do aparelho do Estado brasileiro e com a estabilização da economia, esse padrão entra em colapso e reaparece a velha Alagoas praticamente com os mesmos problemas econômicos e sociais que possuía na década de 50.
Em 1997, nada funciona no Estado, que perdeu suas funções vitais provocando um forte processo de sucateamento de toda sua infra-estrutura física, produtiva e humana de difícil recuperação.
Dados de 1995 do IBGE indicam que o alagoano tem renda média de 1,8 salário mínimo e 1,8 ano de estudo. Dos chefes de família, 45,4% são miseráveis, 40,5% da população é analfabeta e vive em média 57 anos. De cada mil crianças que nascem vivas, 70 morrem antes de completar um ano; 70% de todos os ocupados são trabalhadores informais, 12% das crianças de 5 a 14 anos de idade trabalham em atividades arriscadas e insalubres, 42,6% das crianças entre 0 e 6 anos vivem em pleno estado de indigência.
Os funcionários do Estado, que representam 48% dos empregos formais, não recebem salários há pelo menos seis meses. O Estado possui ainda um dos maiores índices de concentração de renda do mundo, só comparável com os países mais pobres da África.
Esse cenário social desfavorável não decorre basicamente da insuficiência de recursos, mas sobretudo porque a definição das prioridades está voltada para atender às reivindicações de um pequeno segmento da população. Numa situação de contenção de despesas, isso afeta de modo mais severo as pessoas menos favorecidas.
Estes, não suportando a depressão da demissão sem justa causa, do não pagamento dos salários atrasados, da falta de escola, saúde, segurança, falência das empresas e dos baixos rendimentos, não têm alternativa senão a de manifestar sua insatisfação com esse modelo político coronelista de administrar, organizar, produzir, arrecadar e distribuir os recursos.

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