São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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FHC e governador fecham acordo e evitam intervenção

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O governador interino de Alagoas, Manoel Gomes de Barros (PTB), aceitou ontem as propostas do presidente Fernando Henrique Cardoso de saneamento financeiro e administrativo do Estado e afastou, temporariamente, a ameaça de intervenção federal formal -embora haja uma "intervenção branca" em curso.
"Estou disposto a atender ao que for preciso. Se obtiver ajuda, eu farei", disse Barros ontem pela manhã, antes da reunião com FHC no Palácio das Laranjeiras, no Rio: "Vou agir de forma imediata".
Como saldo da conversa de ontem, Alagoas deve receber cerca de R$ 40 milhões na próxima semana para o pagamento do correspondente a uma folha de pagamento do funcionalismo do Executivo e de parte do Legislativo.
Em comum, as duas têm de início o primeiro item: o fim do acordo com os usineiros, que prevê a isenção da cobrança de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre a produção de cana-de-açúcar, além de estabelecer pagamento de dívidas (de R$ 120 milhões) já quitadas junto aos usineiros.
"Se não forem cumpridas as exigências, não haverá outra alternativa senão a intervenção. Até o próprio governador concorda com isso", afirmou o ministro interino da Fazenda, Pedro Parente, que participou do encontro. Segundo ele, o rompimento com os usineiros é "cláusula pétrea".
"Quero romper esse acordo há dois anos", disse Barros. O acerto foi negociado quando Fernando Collor era o governador entre 1987 e 1989. Barros encomendou à Procuradoria Geral do Estado uma análise sobre qual recurso deve encaminhar à Justiça para cancelar o acordo o mais breve possível.
Alagoas é o segundo produtor nacional de açúcar e álcool. Com a isenção de ICMS, o Estado deixa de arrecadar cerca de R$ 3,5 milhões por mês.
Pedro Parente disse que o governo de Alagoas tem até o dia 15 de agosto para formalizar um protocolo dos três níveis estaduais -Executivo, Legislativo e Judiciário- com o governo federal propondo a privatização "de tudo o que for privatizável no Estado".
Num primeiro momento, será privatizada a Companhia Estadual de Energia Elétrica (Ceal), que deverá render cerca de R$ 120 milhões. Dessa forma, no dia 15 de agosto o governo federal pagará a diferença entre o que repassará na próxima semana e o que deve render a venda da companhia (o que resultará em aproximadamente R$ 80 milhões), a título de antecipação de receita de privatização.
Esse dinheiro será usado para abater o valor de duas folhas de pagamento e meia. O restante será repassado escalonadamente pelo governo federal em 18 meses. O prazo poderá ser menor se Alagoas cumprir outras metas.
O governo quer ainda que um acordo com o Tribunal de Justiça impeça que o dinheiro seja usado em pagamento de dívidas de sentenças judiciais (precatórios), em vez dos salários.
Parente disse ainda que até agosto o governo federal deverá repassar outros R$ 165 milhões para o pagamento do PDV (Plano de Demissão Voluntária).
Barros aceitou que pessoas indicadas pelo governo assumam as secretarias da Administração, da Segurança e o comandante da Polícia Militar. Entre as propostas do governo alagoano está a de decretar a moratória unilateral de pagamento a empreiteiras até que os salários sejam pagos.

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