São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Trabalhar na chuva irritou zootécnico

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Trabalhar das 3h da madrugada às 20h todos os dias não foi a pior coisa do "estágio", para o zootécnico Carlos Marcelo Saviani. O que o fez fugir da fazenda nos EUA foram as "humilhações".
Uma delas Saviani diz que nunca vai esquecer. "Um dia, chovia pedra de gelo, e o fazendeiro nos levou (ele e outro estagiário) para o campo com umas foices. Ele não disse o que iríamos fazer."
E acrescenta: "Quando chegamos, ele mandou a gente cortar grama. Ficamos lá na chuva enquanto ele nos vigiava do carro".
Isso foi a gota d'água no período de um mês e meio do "estágio" de Saviani, que lhe custou pelo menos US$ 2.500 e mais a passagem de ida (US$ 1.100). Como os outros, ele ligou para os responsáveis pelo programa nos EUA para reclamar.
"Eles me disseram que eu iria mudar de fazenda, mas que teria que esperar mais 15 dias", disse.
Como se sentia "preso" (sem visto e sem passagem de volta), decidiu esperar mais um pouco.
Diz que acordava às 3h e andava até o campo, onde ajudava a levar o gado para o lugar da ordenha. Uma hora depois, estava tirando o leite das vacas e só parava às 10h para tomar café da manhã.
Meia hora depois do café, estava de volta ao trabalho, que se alongava até as 20h, quando fazia a segunda e última refeição do dia e, em seguida, ia dormir.
"Era um inferno. Dormia mal, trabalhava muito e comia pouco. Até que, um dia, estourei e resolvi ir embora mesmo." O zootécnico conta que contatou um amigo que estava em uma fazenda melhor e conseguiu uma vaga para ele. "Liguei de novo para os representantes do programa e disse que eu iria sair da fazenda de qualquer maneira. E mudei para a outra fazenda."
Aí, diz Saviani, as coisas começaram a melhorar. "O fazendeiro que me acolheu era um cara legal e havia espaço para aprender coisas lá. Dei sorte, mas isso não teve nada a ver com o programa."
Saviani chegou ao Brasil há um mês e hoje trabalha como gerente de marketing de uma empresa graças aos contatos que fez nos EUA. "Fui uma exceção porque ainda consegui aproveitar o que gastei. A maioria perdeu tudo."
(LM)

Texto Anterior: Candidata desconfiou e não viajou
Próximo Texto: Estudante trabalha, mas é bem tratado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.