São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Ordenha às 3h faz agrônomo 'escapar'

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

João Quartucci, 26, viajou para os EUA sem saber onde iria morar durante um ano. Até chegar a São Francisco, os organizadores ainda não sabiam em que fazenda o agrônomo iria trabalhar.
Chegando lá, eles decidiram que ele iria para a região de Winsconsin (meio-oeste do país) e, em vez de uma fazenda de citricultura, trabalharia com ordenha de vacas.
"Sabia que estava indo para trabalhar, mas não sabia que iria ser escravo deles, sem nenhum tipo de aula ou treinamento", afirma.
Ele acordava às 7h, tomava café da manhã e ordenhava as 500 vacas duas vezes ao dia, uma tarefa que se estendia até as 12h e, à noite, das 19h às 0h. Nos intervalos, limpava currais, esvaziava o silo (local onde se armazena grãos) e ajudava em outros pequenos serviços.
Uma semana depois, ele estava esgotado e "começou a fazer corpo mole". "Os fazendeiros não gostavam do meu trabalho, mas eu não estava nem aí porque não viajei para os EUA para fazer aquele tipo de trabalho. Não estava aprendendo nada, não me alimentava bem e não tinha nenhum relacionamento com a família."
Ligou duas vezes para os organizadores, reclamando e pedindo que o mudassem de fazenda. Não foi atendido. Até que, um dia, ele ficou muito irritado com os fazendeiros e decidiu ir embora.
"Me avisaram que o meu turno na ordenha iria mudar. Em vez de fazer a segunda turma, das 19h às 0h, iria pegar a turma das 3h às 7h. Já era tarde, perto da meia-noite. Só iria dormir 3 horas."
E acrescenta: "Mesmo assim, acordei às 3h e me apresentei ao trabalho. Eles disseram que tinham mudado de idéia de novo e que não precisava trabalhar de madrugada, mas às 7h. Aí, fiquei muito irritado porque, no outro dia, começaria às 7h e acabaria só à meia-noite".
Então, completando dois meses de estágio, em julho do ano passado, ele decidiu deixar o programa e estudar na Universidade de Madison, a mais próxima da fazenda. Quartucci só voltou ao Brasil há três semanas e afirma que, por ter escapado do estágio, conseguiu "aproveitar alguma coisa" nos Estados Unidos.
(LM)

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