São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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'Onda' de jovens vai mudar cara dos país

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nunca houve uma safra assim. E vai demorar muito para aparecer outra igual. Os adolescentes que têm entre 12 e 16 anos fazem parte da maior geração que o Brasil viu nascer. São os "baby-boomers" brasileiros e, como uma onda, vão mudar tudo por onde passarem.
Neste século, sucessivas gerações de brasileiros têm desbancado em tamanho suas antecessoras. Mas no começo dos anos 80 essa regra mudou, e uma nova curva demográfica começou a se desenhar.
A cada ano as mulheres têm menos filhos e, por consequência, as novíssimas gerações nacionais ficam menores do que as anteriores. Em outras palavras: há mais adolescentes e menos crianças.
Isso vai mudar a cara do país: à medida que os "boomers" vão envelhecendo, vai diminuindo, por exemplo, a demanda por creches e escolas de primeiro grau, mas aumenta a pressão por vagas universitárias e postos de trabalho.
Projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que há hoje cerca de 17% mais jovens de 12 a 16 anos do que dez anos atrás: algo como 2,5 milhões de adolescentes.
Em compensação, há 10% menos brasileiros com até 4 anos: cerca de 1,8 milhão de crianças.
No futuro essa tendência vai se aprofundar. Em 2005 a população madura, entre 30 e 44 anos, representará 23,1% dos brasileiros. Vinte anos antes esse segmento não passava de 17,4% da população.
Ao mesmo tempo, a fatia das crianças até 14 anos terá caído de 36,6% para 25,4% da população.
"É difícil que essa tendência de queda da fecundidade mude. Não há precedente no mundo. Além disso, a opção das mulheres foi pela esterilização. Mesmo que elas mudem de idéia, não tem como voltar atrás", afirma Celso Simões.
Demógrafo do IBGE, ele acha mais provável que a fecundidade caia ainda mais: "A média desejada de filhos pelas mulheres (1,8) brasileiras ainda é menor do que a observada (2,5)".
Pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Ana Amélia Camarano ressalva que o impacto dessa mudança do perfil demográfico do país deve ser analisada em função das características regionais.
Os "baby-boomers" do Nordeste, por exemplo, são mais jovens. 'À queda da demanda é diferenciada: nas regiões pobres a diminuição da fecundidade ocorreu mais tarde e ainda há pressão por vagas nas escolas", diz.
Além disso, ela lembra que não haverá redução da demanda escolar se se aproveitar o momento demográfico favorável para aumentar a taxa de escolarização. Cerca de 15% das crianças nordestinas de 7 a 14 anos estão fora da escola.
"É uma boa oportunidade para gastar melhor e com quem precisa", resume a pesquisadora.
O demógrafo Simões concorda: "Deve-se concentrar recursos na educação para as novas gerações e investir em qualidade".
Em relação às implicações sobre o mercado de trabalho, ambos afirmam que a mudança demográfica é positiva. Vai cair a taxa de dependência do país. Isto é: diminuirá o número de crianças e idosos que dependem daqueles que estão em idade ativa.
Os desafios, no caso, são dois: criar emprego para o número crescente de jovens que estará entrando na idade de trabalhar e implantar mecanismos para diminuir a evasão de contribuição previdenciária provocada pelo crescimento do mercado informal de trabalho.
Esse último é essencial para evitar uma crise da Previdência. Com o envelhecimento da população, o número de pessoas com direito a aposentadoria por idade (mais de 65 anos) vai crescer rápido.
Eram 7,3 milhões de idosos em 1995. Eles serão 10,3 milhões em 2005 e 18 milhões em 2020.

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