São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Saúde viverá caos para atender idosos

DA REPORTAGEM LOCAL

"Se a situação da saúde no Brasil hoje já é caótica, as coisas devem piorar no ano 2020. Se já temos problemas para atender crianças, jovens e adultos hoje, vamos acumular a população de idosos", diz Maurício Lima Barreto, 43, médico e professor-adjunto do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia.
"Precisamos investir em qualidade em vez de quantidade. É preciso revisar as prioridades."
Segundo ele, o Brasil ainda enfrenta um contingente alto de mortalidade infantil e doenças infecciosas. "O Brasil tem de conviver com doenças emergentes, reemergentes e permanecentes. Com esse panorama, é difícil saber o que o país vai ser em 20 anos."
Segundo Barreto, países do Primeiro Mundo diminuíram as doenças infecciosas quando não havia tecnologia medicinal como a atual. "Eles combateram doenças ao melhorar a qualidade de vida."
"Os idosos já são 13 milhões no país. Eles serão 32 milhões em 2020", diz Renato Veras, 48, diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Os epidemiologistas consideram idosas as pessoas com mais de 60 anos.
"É o momento para que a sociedade e o sistema de saúde repensem o que farão com seus recursos. Não haverá carência de maternidades, mas os hospitais podem ser ocupados pelos idosos."
Sua entidade oferece 113 cursos de idiomas, história, dança e outros. "A diferença é que trouxemos o Zico para um jogo de futebol. Não oferecemos resto para nossos cidadãos." Para este mês, a editora Relume-Dumará lança "Terceira Idade, um Desafio para o Terceiro Milênio", sobre o tema.
O epidemiologista Paulo Andrade Lotufo, 40, do Departamento de Epidemiologia do Hospital das Clínicas da USP, discorda da classificação Primeiro e Terceiro Mundos. "Não dá para comparar a Argentina ao Congo. Mas o Brasil enfrentará problemas com o crescimento da população idosa."
Segundo ele, o Brasil se encontra em padrão intermediário entre os países industrializados e os em desenvolvimento. "O Brasil tem problemas muito típicos de Primeiro Mundo, mas ainda temos alto índice de doenças infecciosas. Mesmo no Primeiro Mundo, não se pode abandonar as doenças infecciosas. Nova York teve um surto de tuberculose."

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