São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Estrago na Bolsa equivale a R$ 40 bi

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Milhares de investidores em Bolsa tiveram razões de sobra para passar a semana com os nervos à flor da pele. Em poucos dias, enfrentaram perda patrimonial que, no conjunto do mercado, pode ter alcançado R$ 40 bilhões.
Só a desvalorização de 123 tipos de ações de 104 empresas, provocada pelo pânico que tomou conta dos pregões, é calculada em pelo menos R$ 14 bilhões pela consultoria Austin Asis.
Ao todo são 550 companhias com papéis negociados na Bolsa de Valores de São Paulo, mas as 104 são representativas. Entre elas estão as de maior patrimônio e liquidez, Telebrás à frente. São as que fazem, de fato, o mercado andar -inclusive para trás.
No dia 8 de julho, véspera do feriado em São Paulo, o Índice Bovespa atingiu seu recorde de alta em termos reais -números deflacionados pelo IGP- desde 1968. Bateu em 13.617 pontos.
As ações das 104 empresas, somadas, valiam R$ 90,1 bilhões no momento de pico. Uma semana depois, dia 17 de julho, estavam valendo R$ 76,3 bilhões a preços de mercado.
Em apenas uma semana a queda atingiu 15,3%, o equivalente a R$ 13,8 bilhões. É mais do que o dobro do Orçamento do município de São Paulo.
Não há números precisos sobre o prejuízo total. Pode ser feita, entretanto, uma estimativa.
No final de junho, as ações das 550 empresas registradas na Bovespa valiam US$ 316 bilhões, algo como R$ 340 bilhões. O número é fechado uma vez por mês.
Se a queda de 15,3% das ações de 104 empresas fosse linear, a perda em julho, concentrada na última semana, poderia ser estimada em R$ 50 bilhões.
Mas o IBX, outro índice da Bovespa, com amostra mais ampla de ações e sem a excessiva concentração em blue chips, como ocorre no Ibovespa, caiu um pouco menos de 8 a 17 de julho: 11,58%.
Mesmo aplicando esse percentual sobre R$ 340 bilhões, o estrago é cavalar: algo como R$ 40 bilhões de desvalorização das ações em apenas uma semana. Isso corresponde à arrecadação da Previdência Social em um ano.
Vedete puxa queda
Só o conjunto das ações da Telebrás, a vedete do mercado, caiu de R$ 53,6 bilhões para R$ 45 bilhões de 8 a 17 de julho, calcula a Austin.
O Ibovespa fechou a quinta-feira em 11.728 pontos. Na sexta a Bolsa caiu mais um pouco, ainda num clima de intenso nervosismo, para 11.181 pontos. É patamar de um mês e meio atrás.
Em índices deflacionados, voltou a ficar abaixo do recorde de 13.180 pontos no Plano Cruzado.
O recorde do Cruzado havia sido batido no início deste mês, pouco antes da sequência de quedas que ainda assusta os investidores.
Mas está justamente nesse ímpeto anterior, dizem os analistas, a explicação para a fase atual.
O Índice Bovespa, principal termômetro do mercado, valorizou-se nada menos do que 78,5% no primeiro semestre. Em julho, até o dia 8, avançou até 93,4%.
"Nenhum ativo no mundo teve rentabilidade igual a essa", comenta Erivelto Rodrigues, diretor da Austin Asis.
Depois de tamanha valorização, todo o mercado esperava um movimento maior de venda de ações para "realização de lucros".
Esse processo começou dia 11, devagar, na esteira da crise cambial iniciada na Tailândia e que se espalhou por outros países da Ásia. Foi agravado e tornou-se quase incontrolável com informações desencontradas de autoridades do governo, boatos sobre câmbio e crise com PMs nos Estados. No mercado, é consenso que a fase de turbulência não acabou.

LEIA MAIS sobre tensão nas Bolsas nas págs. 2-4 e 2-7 a 2-13

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