São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997 |
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Boataria é combustível na busca do lucro
LUIZ ANTONIO CINTRA
Se você ouviu uma dessas "notícias" na semana passada, esqueça. Foi tudo boato, essa espécie de combustível ideal para um esporte muito praticado no mercado financeiro, a especulação. Todos os três citados acima correram as mesas de operações de bancos e corretoras e certamente foram responsáveis por prejuízos -mas também, e é daí que vem a força da boataria, por lucros. Um deles pelo menos -o da iminência da desvalorização do real- cruzou fronteiras, indo derrubar as cotações lá na Bolsa de Valores de Buenos Aires. Surgiu no início da semana e, reicindente, voltou a fazer estragos na sexta. Nas duas ocasiões, a Bolsa argentina fechou em queda e as agências internacionais de notícia informaram: os investidores ficaram ansiosos com o rumor de que o Brasil havia mexido no câmbio. Alguns dias antes, por ironia, havia circulado no mercado brasileiro boato semelhante, dando conta que a Argentina que teria optado por desvalorizar o peso. Nesse caso, o resultado foi agravar a queda da Bolsa paulista, que já caía com a crise na Ásia. A unir os dois episódios está um dos pré-requisitos para um bom boato, ou seja, para aquele boato que pega, como se diz no mercado financeiro, que é manter ao menos um pé na realidade. Isso porque entre analistas do mercado financeiro e economistas há o consenso de que o câmbio, tanto na Argentina como no Brasil, está valorizado, ou seja, as cotações estão sendo sustentadas artificialmente. A própria forma como são fechados os negócios financeiros facilita o sucesso dos rumores. Ali um operador tem segundos para "digerir" uma informação que acaba de saber e decidir a que preço, afinal, deve vender um lote de ações ou fechar um contrato de câmbio para entrega em setembro. Ruídos Parente próximo do boato, o ruído de comunicação é outro parceiro constante desses períodos em que a instabilidade toma conta. Foi o que ocorreu na terça-feira passada, quando o ministro Sérgio Motta criticou o diretor do BC Gustavo Franco, responsável pela política cambial do governo. As agências informaram: o ministro Motta critica Franco. "A crise (nos países asiáticos) mostra que o Gustavo Franco está errado", foi o que o mercado "ouviu" da boca de Motta, nos painéis de notícias "on line". A leitura feita pelos investidores foi: crise no comando do governo, mudanças no câmbio. E as cotações caíram mais ainda na Bolsa. Fechado o mercado, o ministério informou que a questão era apenas o uso do dinheiro da privatização. Dois dias depois o mercado se vingou: lançou o boato da queda do ministro Motta. Texto Anterior: Investidor deve manter calma Próximo Texto: Saiba como funciona a bolsa de valores Índice |
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