São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Mercado nervoso deixa operador neurótico

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mercado nervoso, operador neurótico. Um "dia negro", como a terça-feira passada, é suficiente para que esses profissionais percam cabelos, voz e sono, além de dinheiro.
Os operadores do pregão são o termômetro do mercado. A instabilidade é medida pela sua movimentação.
Quanto mais nervoso o mercado, mais eles gritam, correm, xingam e se engalfinham durante as seis horas que duram as negociações no pregão, um espaço na Bolsa pouco maior que uma quadra poliesportiva.
"Num dia como terça-feira não sobra nada da gente no final. Saio daqui arrasado", diz Luiz Eduardo Meirelles, 36, 16 deles como operador na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).
"Um dia de queda é infernal. Quando a Bolsa tende a cair, é difícil encontrar o fundo. E nós podemos ir junto", afirma Marcelo Aragão, 27, cinco na Bolsa.
O operador traduz tão bem a instabilidade porque é ele quem, efetivamente, fecha os negócios no pregão "viva-voz", ou seja, grita ofertas de compra ou venda de ações.
Durante o dia, ele recebe as instruções da corretora: até que preço pode ir, quantas ações deve negociar etc. Também abastece as corretoras com informações sobre quem está comprando ou vendendo, o que serve para a definição da estratégia no dia.
A idade média desses profissionais é de 30 anos. O salário pode variar de R$ 1.000 a R$ 6.000, dependendo da experiência do operador e do porte da corretora.
Os efeitos das oscilações na Bolsa e da tensão do dia-a-dia não são só financeiros. A maioria dos profissionais ouvidos pela Folha reclamaram de stress e insônia.
"A gente acaba adquirindo o 'vírus' da Bolsa. Fica agitado, o raciocínio não pára. É difícil até conviver com pessoas que não trabalham no nosso ritmo", afirma Meirelles.
Segundo ele, os operadores acabam formando uma comunidade de "agitados" e se relacionando muito entre si.
Cama, família e ambientes tranquilos se tornam as opções preferenciais dos operadores. Um "antídoto", segundo Meirelles.
Marcelo Aragão afirma que procura levar uma vida pacata fora do pregão. Nos finais de semana, prefere ficar em casa, com a mulher. Ele não tem filhos.
Já Meirelles procura viajar para o interior de São Paulo com a mulher e a filha única. "Tento ficar em um ambiente tranquilo, curtindo a família. É assim que eu me acalmo", conta.

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