São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Azarado' pode hoje ser novo líder da Indy

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um brasileiro nascido na França, casado com uma inglesa e com filho norte-americano tem hoje em mãos a possibilidade de alcançar a liderança da Indy.
Carregando desde o fim do ano passado o estigma de "azarado", imputado pelo público que acompanha a categoria, Gil de Ferran, 29, da equipe Walker, prefere falar em "circunstâncias".
Por oito meses, viveu sob desconfiança, após acidentes em sete corridas consecutivas.
A série começou com uma batida em Mauricio Gugelmin (BRA/PacWest), na prova de Mid-Ohio, em agosto de 96, e terminou com um choque solitário contra uma barreira de pneus no GP de Long Beach, em abril deste ano.
O piloto conseguiu, porém, permanecer na classe "azarado" -apesar do intervalo de resultados, se manteve distante do limiar que separa os "sem sorte" dos "sem talento".
Depois de haver exorcizado o fantasma dos acidentes, na quarta corrida do ano, em Nazareth, Ferran agora luta por uma vitória.
Nas duas últimas provas da temporada, as chances lhe foram tiradas nos instantes finais.
Em Portland, perdeu a liderança para Mark Blundell (ING/PacWest) 27 milésimos de segundo antes de cruzar a linha de chegada.
Na prova de Cleveland, há uma semana, seu algoz foi Alessandro Zanardi (ITA/Ganassi), que lhe tomou a ponta há seis voltas do final.
"Não foi azar. Foram questões circunstanciais", afirma.
Liderança
Mesmo não tendo vencido, Ferran é o terceiro colocado no campeonato, à frente de Michael Andretti (EUA/Newman-Haas), Scott Pruett (EUA/Brahma-Patrick) e de Zanardi, que já ganharam provas neste ano.
Uma combinação de resultados pode lhe dar hoje a liderança do campeonato de pilotos.
Caso vença em Toronto e o líder Paul Tracy (CAN/Penske) termine abaixo do sexto lugar, Ferran assumirá a ponta na classificação.
Nem a vitória é necessária. Se Tracy não pontuar, basta a Ferran um terceiro lugar para ultrapassá-lo na tabela.
Há mais de três anos o país não vê um piloto brasileiro na liderança de uma das categorias-chefes do automobilismo mundial.
O último a conseguir a façanha foi Emerson Fittipaldi, que, no início da temporada de 94, ocupou a dianteira da classificação da Indy.
Antes dele, Ayrton Senna, em 93, liderou, por pouco tempo, o Mundial de Pilotos da F-1.
Ferran, no entanto, nega o papel de "salvador da pátria".
"Isso está fora da minha escolha", diz. "Quem escolhe meu papel é o público. Eu não penso nessas coisas."
Na luta pelo título, Ferran tem ao seu lado a regularidade.
Ele vem de quatro pódios nas últimas cinco provas, marca pontos há sete corridas e já terminou seis vezes entre os cinco primeiros.
Essa constância já atingiu até a Cart (que dirige a Indy).
Na apresentação oficial da corrida de hoje, Ferran é chamado pela entidade de "o piloto do momento no campeonato".
Uma violenta reversão no quadro de alguém que, até a quarta prova da temporada, era tachado de "azarado".

Texto Anterior: Atlanta viu 23 recordes e 2 casos de doping
Próximo Texto: Piloto é 'globalizado'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.