São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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Sem-teto reúnem 1.200 em protesto

Grupo caminhará 27 km até a Paulista

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma marcha formada por cerca de 1.200 sem-teto, segundo estimativas da Polícia Militar, saiu ontem da Fazenda da Juta (zona leste da cidade) em direção à avenida Paulista.
O grupo, que fará parte do ato "Abra o Olho, Brasil", caminhou 17 km até a Igreja São José do Belém, onde passou a noite. Até a Paulista (região central), serão mais 10 Km.
Pelo menos 20 homens -entre PMs, funcionários do CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e da SPTrans (São Paulo Transportes)- acompanharam os manifestantes, desviando o tráfego.
Até o final da tarde nenhum incidente havia sido registrado e a manifestação era considerada "pacífica" pela polícia.
"Está tudo tranquilo e o pessoal está animado. É um desafio para as pessoas. Vamos conseguir", disse Evaniza Rodrigues, uma das coordenadoras da caminhada.
A marcha foi planejada com a colaboração do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), CUT (Central Única dos Trabalhadores), CMP (Central de Movimentos Populares) e União dos Movimentos de Moradia.
"É um casamento que está dando certo. Trocamos experiências e aprendemos uns com os outros. Quem nos ensinou a andar em fila dupla, por exemplo, foi o MST", explicou Rodrigues.
"A política habitacional inexiste, o desemprego aumentou e a política rural é insuficiente. Juntos, os sem-teto, os sem-terra e os sem-emprego acabarão com os sem-vergonha", disse ela.
Organização
As refeições dos sem-teto foram providenciadas pela organização da marcha, que pediu a cada manifestante que colaborasse com 1 kg de alimento. Foram arrecadados cerca de 300 kg de mantimentos.
As refeições foram preparadas pelos próprios sem-teto em cozinhas cedidas pela igreja. Ontem o cardápio do almoço foi composto por arroz e macarrão. Estavam sendo preparados frango, feijão, arroz e batata para o jantar.
Duas enfermeiras sem teto acompanhavam a caminhada. Só uma mulher apresentou problemas de saúde. "Ela teve tontura, mas foi de emoção. Nem chegou a ir até o hospital", declarou Rodrigues.
Segundo os organizadores da marcha, havia pelo menos 20 crianças e duas mulheres grávidas entre os participantes da manifestação.
Sem-terra
O MST não espera receber um tratamento melhor da polícia em razão de seu apoio aos protestos por melhores salários que a categoria vem realizando em todo o país.
"Eles vão continuar a tirar a gente das nossas ocupações e perseguir nossos companheiros. A gente não espera folga", disse ontem Gilmar Mauro, da direção nacional do MST.
Segundo ele, o apoio do MST aos policiais civis e militares é uma questão "ética": "Eles têm famílias e precisam de salário".
Mauro comanda a marcha de 600 sem-terra que saiu na terça-feira de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo) e chegou ontem a Osasco (região metropolitana da capital).
O grupo se encontrará com os demais manifestantes na avenida Paulista.

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