São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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Exército é acusado de espionagem política

SILVANA DE FREITAS

SILVANA DE FREITAS; WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Agentes militares que acompanharam congressos do PT em 1993 e 1995 podem ter sido infiltrados

O Exército acompanhou, relatou com detalhes e divulgou internamente atividades recentes do PT, como congressos nacionais, realizados em 1993 e 95, conforme cópias de documentos confidenciais divulgadas pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Em 16 de setembro de 1993, o CIE (Centro de Inteligência do Exército) distribuiu aos comandos das principais unidades 54 cópias do relatório de 21 páginas sobre o 8º Congresso Nacional do PT, realizado dois meses antes em Brasília.
O "Relatório Especial de Informações nº 3", cuja cópia foi divulgada pela comissão, traz informações como a disputa interna das tendências do PT e a atuação de grupos de homossexuais.
Também reproduz o discurso feito pelo presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato às eleições presidenciais, e as listas dos integrantes da mesa e novos membros do diretório e da executiva nacionais.
Outro documento, de duas páginas, orienta os "arapongas" do Exército sobre o acompanhamento do 10º Congresso do PT, realizado em agosto de 1995, em Guarapari (ES), já no governo FHC.
Esses textos sigilosos estavam nas mãos do cabo José Alves Firmino, 27, "informante" do serviço de inteligência do Exército de 1990 a 95. O material foi entregue pela família do militar à comissão.
Cópia de uma carta de Firmino a seu comando, em Goiânia, indica que ele atuou no Comando Militar do Planalto como infiltrado no PT e no MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro).
Ele foi transferido, no ano passado, de Brasília para Goiânia e estaria hoje sofrendo perseguição no Exército. Teve negado pedido de aposentadoria por ser portador de hanseníase. A família pediu ajuda à comissão para proteger a vida e a integridade física de Firmino.
O dossiê foi encaminhado aos ministérios do Exército e da Justiça e ao Palácio do Planalto. O presidente da comissão, deputado Pedro Wilson (PT-GO), deve se reunir com o ministro Zenildo de Lucena (Exército) no dia 5 de agosto.
Os documentos, com timbres e carimbos aparentemente oficiais, indicam acompanhamento sistemático, no governo militar, de militantes de esquerda e políticos, como Fernando Henrique Cardoso.
O "prontuário nº 1325" traz os passos do líder estudantil Honestino Guimarães, de outubro de 1965 até 69, antes de ser preso e morto.
A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) anunciou ontem que vai processar o cabo Firmino e o Exército por falsidade ideológica. Um dos documentos usados, no nome de Marcos Oliveira dos Santos, é a carteira de jornalista.

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