São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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Falha em válvula de Angra 1 desliga usina

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Um defeito na válvula de segurança do pressurizador da usina de Angra 1 provocou o desligamento de seu reator nuclear na madrugada de sábado passado. A usina só foi religada na madrugada de ontem, após o reparo necessário.
A válvula defeituosa permitiu o vazamento de vapor acima do nível normal.
A direção de Furnas Centrais Elétricas negou qualquer vazamento radioativo ou um problema de maior gravidade -prevendo que a usina volte a operar a 100% de carga na próxima terça-feira.
O prefeito de Angra dos Reis, José Marcos Castilho (PT), estranhou que a empresa tivesse, desde o problema, interrompido o fornecimento à prefeitura do boletim de ocorrência da usina -o que contraria um acordo.
Procurado pela Folha para comentar o problema, o diretor da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio), o físico Luiz Pinguelli Rosa, disse que poderia até ter ocorrido um grave acidente.
Segundo ele, um problema em uma válvula semelhante acabou provocando, em março de 1979, o acidente na usina nuclear de Three Miles Island, na Pensilvânia (EUA). Foi o primeiro grande acidente nuclear da história. O reator ficou dias sem controle e a radioatividade acabou vazando para o prédio da usina.
Na usina norte-americana, uma das bombas do circuito secundário enguiçou. Como a válvula de pressurização emperrou, sem que fosse notado o defeito, a água acabou baixando demais, provocando o superaquecimento das barras do combustível nuclear.
Para Pinguelli, o problema na válvula de segurança do pressurizador de Angra 1 "não foi uma brincadeira", pois "não se pára um reator à toa". Segundo ele, foi mais um problema na série que se acumula na história do reator.
Em abril passado, o reator também teve de ser desligado, após o rompimento de uma tubulação do condensador da usina. "Não foi muito grave, mas provocou uma contaminação de água no circuito secundário da usina", disse.
O diretor da Coppe afirmou que a radioatividade do circuito primário da usina vem aumentando "e vai dar problema adiante" nas barras de combustível do reator, que poderão ter de ser trocadas.
O físico disse também que as tubulações dos geradores de vapor da usina estão com problemas de corrosão e também poderão ter que ser trocadas.
"Esse reator, apesar de sua boa performance recente, tem muitos pequenos problemas, que, somados, poderão provocar sérias dificuldades", afirmou Pinguelli. Segundo ele, são problemas que podem ocorrer dentro de três anos.

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