São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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Itamaraty relança a tese polêmica de BH

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O governo brasileiro decidiu incorporar formalmente os setores sindical e empresarial à delegação oficial para as negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que englobará os 34 países americanos, excluída Cuba.
Representantes das centrais sindicais e das entidades empresariais já foram convidados para a reunião de vice-ministros, que se inicia na próxima terça-feira em San José da Costa Rica e retoma as discussões sobre a Alca no ponto em que foram deixadas na reunião ministerial de Belo Horizonte, em maio.
É uma decisão até certo ponto provocadora.
Em Belo Horizonte, os diplomatas brasileiros fizeram uma espécie de panfletagem, distribuindo na sala de reuniões dos ministros texto aprovado pelo sindicalismo no qual se reivindica atenção também ao social na construção da zona de livre comércio.
Reação
Houve forte reação de algumas delegações, em especial a peruana e a mexicana, que chegaram a dar o documento por "não recebido".
Ao insistir na tese de que os interlocutores sociais têm de ser ouvidos, o Itamaraty vai despertar ira idêntica.
"Temos de reagir aos documentos que são apresentados aos governos pelos empresários e centrais sindicais, já que nunca foram respondidos", é a explicação que a Folha ouviu junto à delegação brasileira que está preparando a negociação na Costa Rica.
Têxteis e agricultura
Mas não é essa a única posição do Itamaraty que vai causar polêmica na retomada das negociações sobre a Alca.
Há uma proposta, defendida pelos norte-americanos, para que os 11 grupos de trabalho temáticos constituídos desde o início se transformem em grupos negociadores.
Significa, na prática, avançar o cronograma, já que não se chegou até agora a um consenso sobre o quê e como, exatamente, se vai negociar.
Os Estados Unidos insistem em negociar tudo já a partir de 1998, depois da reunião de cúpula da Alca, transferida de março para abril, em Santiago do Chile.
O Mercosul não quer saber de negociar reduções das tarifas de importação antes de, pelo menos, 2003.
Carona
Nesse contexto, o Itamaraty sugerirá que, se os grupos de trabalho forem mesmo transformados em grupos de negociação, que se comece por agricultura e têxteis, exatamente os dois setores em que há maiores entraves, nos EUA, à entrada da produção latino-americana.
É uma maneira sutil de pegar carona na pressa norte-americana para tentar negociar aquilo que interessa mais ao Mercosul.
O Itamaraty já nem faz mais questão do critérios das três etapas, ao qual se apegava até agora (sendo a última, precisamente, a redução das barreiras).
A delegação brasileira acha que o importante não é seguir etapas mecanicamente, mas garantir que as condições de negociação assegurem um equilíbrio no pacote global.
Ou seja, o Brasil (e o Mercosul) só faria concessões se, antes, os norte-americanos também as fizessem, o que significa levantar os entraves, em geral não-tarifários, para a importação de produtos como aço, têxteis, suco de laranja etc.
Até a cúpula de Santiago, haverá mais duas reuniões de vice-ministros e uma de ministros, todas na Costa Rica.

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