São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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Historiador da USP elogia acervo

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em março de 1996, Ulpiano Bezerra de Meneses -professor titular de história na Universidade de São Paulo e ex-diretor do Museu do Ipiranga- emitiu um parecer sobre as antiguidades de Raful.
"Muitas peças foram adquiridas quando sequer havia sensibilidade para seu valor documental ou de antiquariato, o que as torna hoje excepcionais", escreveu.
"É o caso de pequenos objetos de grande significação, como lâmpadas antigas ou material escolar, ou, ainda, dos antecessores dos eletrodomésticos."
"Estando profissionalmente atento a essa faixa de interesses, não me recordo de jamais ter visto, em quantidade, qualidade e variedade, uma coleção desse tipo."
No documento, Meneses -que, há quatro anos, ainda à frente do museu, orientou o cadastramento dos objetos- elogiou um aparente defeito do acervo.
"A coleção não é especializada; pelo contrário, à primeira vista, seu ecletismo parece excessivo. No entanto, (...) apesar da grande diversidade tipológica, as peças se inserem nos problemas-chaves que os museus históricos vêm priorizando."
O atual diretor da instituição, José Sebastião Witter, partilha o mesmo raciocínio. "É um acervo importantíssimo porque resguarda a memória da tecnologia e dos costumes. Não se pode perdê-lo de jeito nenhum", disse à Folha.
Caso consiga apoio da iniciativa privada, Witter promoverá exposições temporárias e permanentes no sobrado do colecionador. Quer preservar a casa tal e qual o dono a organizou. "A lógica peculiar de Raful merece toda a atenção."
O Museu do Ipiranga -que tem o nome oficial de Museu Paulista- é o mais antigo do Estado. Nasceu no dia 26 de agosto de 1893. Em 1992, descobriu o patrimônio do ex-mascate por força da antiquária Carmelina Sultani.
Ela conta que, entre colecionadores de São Paulo, Raful é muito famoso -quase uma lenda. "Sempre ouvíamos falar do sobrado, mas não sabíamos exatamente o que existia por lá."
Um dia, Carmelina decidiu enfrentar a resistência de Raful e visitou o casarão, já um tanto deteriorado. Ficou tão impressionada que contatou o museu.
Desde então, se empenha -junto com a filha, a arquiteta Aline- em levantar o patrocínio que poderá salvar o acervo.
"Por que quero vender tudo?", pergunta-se Raful. "Porque já gozei cada objeto. Não me expandi no cigarro nem na bebida -o prazer de viver extraí da coleção. Como não sou eterno, está na hora de passar as peças adiante. Poderia doá-las, mas tenho receio. Quem recebe em doação não dá valor."
(AA)

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