São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Historiador da USP elogia acervo
ARMANDO ANTENORE
"Muitas peças foram adquiridas quando sequer havia sensibilidade para seu valor documental ou de antiquariato, o que as torna hoje excepcionais", escreveu. "É o caso de pequenos objetos de grande significação, como lâmpadas antigas ou material escolar, ou, ainda, dos antecessores dos eletrodomésticos." "Estando profissionalmente atento a essa faixa de interesses, não me recordo de jamais ter visto, em quantidade, qualidade e variedade, uma coleção desse tipo." No documento, Meneses -que, há quatro anos, ainda à frente do museu, orientou o cadastramento dos objetos- elogiou um aparente defeito do acervo. "A coleção não é especializada; pelo contrário, à primeira vista, seu ecletismo parece excessivo. No entanto, (...) apesar da grande diversidade tipológica, as peças se inserem nos problemas-chaves que os museus históricos vêm priorizando." O atual diretor da instituição, José Sebastião Witter, partilha o mesmo raciocínio. "É um acervo importantíssimo porque resguarda a memória da tecnologia e dos costumes. Não se pode perdê-lo de jeito nenhum", disse à Folha. Caso consiga apoio da iniciativa privada, Witter promoverá exposições temporárias e permanentes no sobrado do colecionador. Quer preservar a casa tal e qual o dono a organizou. "A lógica peculiar de Raful merece toda a atenção." O Museu do Ipiranga -que tem o nome oficial de Museu Paulista- é o mais antigo do Estado. Nasceu no dia 26 de agosto de 1893. Em 1992, descobriu o patrimônio do ex-mascate por força da antiquária Carmelina Sultani. Ela conta que, entre colecionadores de São Paulo, Raful é muito famoso -quase uma lenda. "Sempre ouvíamos falar do sobrado, mas não sabíamos exatamente o que existia por lá." Um dia, Carmelina decidiu enfrentar a resistência de Raful e visitou o casarão, já um tanto deteriorado. Ficou tão impressionada que contatou o museu. Desde então, se empenha -junto com a filha, a arquiteta Aline- em levantar o patrocínio que poderá salvar o acervo. "Por que quero vender tudo?", pergunta-se Raful. "Porque já gozei cada objeto. Não me expandi no cigarro nem na bebida -o prazer de viver extraí da coleção. Como não sou eterno, está na hora de passar as peças adiante. Poderia doá-las, mas tenho receio. Quem recebe em doação não dá valor." (AA) Texto Anterior: Colecionador povoou casa com bonecos Próximo Texto: O baú do mascate Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |