São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997 |
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Casas de tradição ocupam o centro
JOSIMAR MELO
Meses antes, o Bistrô, novamente na Ipiranga (mas desta vez na esquina com Consolação), e que estava trabalhando somente para o almoço, decidira reabrir para o jantar, com a volta do ativo barman Derivan Ferreira de Souza. Com esta retomada dos restaurantes tradicionais na região, a idéia de fazer o centro da cidade sobreviver à decadência ganha algum alento na área gastronômica. O renascimento do ex-Brahma, às vésperas de completar 50 anos, dá uma sacudidela num trecho da cidade tão mítico quanto decadente, a esquina das avenidas Ipiranga e São João. O lugar, em lenta decadência, aproveitou o acordo de exclusividade selado com a cerveja Kaiser para sacudir a poeira. Antonio Mello, um dos proprietários, anuncia que o cardápio alemão, que nunca deixou de ser servido (mas estava diluído entre centenas de pratos), volta a ser a principal atração da casa. Nada indica que venha a ser uma comida excepcional, como não era antes, mas a simples reconstituição de um cenário histórico da cidade, onde se possa beber e comer decentemente enquanto se inspira os hálitos dos antepassados, já vale a empreitada. A combinação de cerveja e chucrute pode restabelecer o ar das brasserias que, na Europa, parecem durar eternidades. Cinco vezes Sujinho Se o atual São João 677 mudou sem sair do lugar, o Sujinho realizou um movimento surpreendente: enquanto outros restaurantes mudam-se ou abrem filiais nos Jardins ou Itaim, ele abriu seu novo endereço em plena avenida Rio Branco. E está feliz com isso. "Temos filas no almoço e no jantar, e movimento até depois de meia-noite", conta Afonso Rocha, proprietário, com seu pai (o português Manuel Rocha), das cinco casas com o mesmo nome. O nome, aliás, não é nenhum desses. A empresa chama-se Super Quente, foi fundada por dois portugueses chamados Antonio (hoje aposentados em Portugal), e embora os proprietários costumem alardear que existe há 40 anos, é certo que já nos anos 30 funcionava na mesma rua da Consolação. Que era estreita, tinha bonde, e nos anos 60 sediava o teatro Record, o que levou o restaurante -então conhecido como Bar das Putas, por motivos que não é preciso explicar- a tornar-se ponto de encontro também de artistas e jornalistas, e galgar a fama. Tentando driblar o nome com que se popularizou, os proprietários batizaram-no Bisteca d'Ouro, inutilmente. Sujinho, outro apelido, terminou sendo institucionalizado. Dos males o menor, pensam eles, que assumiram o negócio há treze anos e mantêm suas virtudes, a informalidade e uma bisteca de tamanho inversamente proporcional ao preço (que é baixo). Com quatro casas na esquina das ruas Consolação com a rua Macéio, o Sujinho tem, em cada endereço, um ambiente um pouco diferente. A nova casa busca ser mais confortável e com melhor serviço. Mas é ainda assim um restaurante simples, de carnes razoáveis, cuja magia reside principalmente num espírito popular que só é batido pelos seus endereços originais. Restaurantes: Sujinho (av. Ipiranga, 1.058, tel. 229-9986) e São João, 677 (av. São João, 677, tel. 223-7720) Texto Anterior: Porto Alegre faz festival de teatro uruguaio Próximo Texto: Original homenageia os 'clássicos' Índice |
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