São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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Mostra desencava TV "pré-computador"

FERNANDO PAULINO NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma exposição com trabalhos para emissoras de TV da era "pré-computador" estará em cartaz a partir de 15 de setembro na Fundação Casper Líbero.
Aberturas de novelas, vinhetas e logotipos de programas da TV Excelsior, Tupi, Globo e Bandeirantes serão exibidos na mostra do cenógrafo Cyro del Nero, 65, que marca o primeiro evento da Associação dos Pioneiros da TV Brasileira, fundada há cerca de um ano e meio.
Nero mostrará também o que fez no teatro, cinema, moda e artes gráficas, mas não tem dúvida que a parte relativa à televisão, que ele considera "a coqueluche da sociedade brasileira", será a principal atração.
Para ele, a "divisória" da história da televisão brasileira está no aparecimento do computador. "Meu grande período de TV é sem computador. Sou do tempo que não havia sequer videoteipe", diz Nero.
Para o cenógrafo, que participou da inauguração da TV Excelsior, em 1960, em seu tempo "havia uma coisa mais dramática para fazer a abertura de uma novela, havia o suor pessoal mais presente".
Nero pegou a transição entre as novelas em preto-e-branco e as coloridas, tendo feito as aberturas das coloridas "Semideus", "Supermanuela", "O Espigão", "Fogo sobre Terra" e, a sua preferida, "Os Ossos do Barão".
Nero acredita que, com as facilidades tecnológicas, a atividade perdeu essência. "Hoje é o efeito pelo efeito. O entusiasmo pela forma é tão grande que o que nos é dado é forma apenas", diz.
Mesmo afirmando que não é contra o avanço tecnológico em si, diz que o entusiasmo pelo efeito faz com que não haja uma "preocupação de passar uma emoção. É apenas virtual".
"A máquina precisa de alguém que tenha necessidade dela e não apenas entusiasmo por ela", afirma o cenógrafo.
Museu
A exposição, que terá 600 metros quadrados, com dez monitores, 300 artes e cinco painéis, vai marcar a largada para outros eventos da Associação dos Pioneiros da TV Brasileira.
Depois virão palestras desses mesmos pioneiros; o Projeto Memória, com gravações de depoimentos; e, sonho maior, a criação de um museu dedicado à televisão.
O cenógrafo lembra que a idade média dos profissionais que participaram dos primeiros passos da TV brasileira é 60 anos e que essa memória corre o risco de se perder. "O material começa a ficar disperso."
Por isso, ele já fez o projeto físico do museu e já tem até um terreno em vista. Mas o principal, segundo ele, ainda é um entrave: a falta de recursos para manter o museu.
A exposição ficará em cartaz até 15 de outubro. Além das aberturas de novelas e outros trabalhos para a TV, ela apresentará maquetes de cenários como o que del Nero fez para a encenação da ópera "O Guarany", de Carlos Gomes, em Sófia, na Bulgária, em 96.

Exposição: Cyro del Nero
Onde: Fundação Casper Líbero (av. Paulista, 900, térreo, tel. 011/3170-5757) Quando: a partir de 15 de setembro
Quanto: entrada franca

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