São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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Valerie Solanas merece 15 minutos de fama

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao desferir três tiros contra o artista plástico norte-americano Andy Warhol, em 3 de junho de 1968, a ativista Valerie Solanas conseguiu mais que os 15 minutos de fama alardeados pelo artista como uma consequência natural da superexposição aos meios de comunicação de massa.
Seus manifestos finalmente foram publicados, suas idéias serviram de fundamento para a luta feminista de emancipação da mulher nos anos 70 e seus atos viraram filme nas mãos da roteirista canadense Mary Harron, que estréia na direção de longas com esse "Um Tiro para Andy Warhol".
O filme não foge ao perfil da diretora, que antes já havia realizado documentários como "How to Make an Oliver Stone Movie". A acidez crítica desse título volta em "Um Tiro para Andy Warhol".
Andy Warhol, por exemplo, não é descrito como um ícone da cultura pop norte-americana, mas como um artista monossilábico e pretensioso, que desconhecia seu talento ou de outros.
Já a protagonista Valerie Solanas, feminista lésbica indigente que pretendia provar a superioridade do gênero feminino e exterminar o masculino da face da Terra, é traçada de maneira bem positiva, como uma paladina na defesa dos direitos homossexuais femininos. Até mesmo os momentos em que pede esmolas ou se prostitui para sobreviver são mostrados com grande altivez e dignidade.
Solanas foi fundadora e único membro da Scum - Society for Cutting Up Men (Sociedade para a Castração dos Homens). "Scum" pode significar "escória", maneira como ela descrevia os homens.
Sua luta, porém, foi ficando cada vez mais insana, e seus atos, violentos e inaceitáveis, mesmo para a liberada turma da Factory, que passou a rejeitá-la.
Sua saída foi então tentar matar seu líder, Andy Warhol. "Ele tinha muito controle sobre minha vida", justifica, ao entregar-se à polícia.
O crime rendeu a Solanas três anos na cadeia e outros seis em instituições psiquiátricas. Morreu em 1988, aos 52 anos, em San Francisco, vítima de broncopneumonia e enfisema pulmonar.
A reconstituição de época e a interpretação de Lili Taylor, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no festival independente Sundance, de Robert Redford, são outros dois destaques no filme. Excelente ainda é a trilha sonora, que traz Sérgio Mendes e Brasil 66 ("Mas que Nada"), Pavement ("Sensitive Euro Man") e MC5 ("Kick Out the Jams"), entre outros.

Filme: Um Tiro para Andy Warhol
Produção: EUA, 1996
Direção: Mary Harron
Com: Lili Taylor, Stephen Dorff
Quando: estréia hoje no Estação Vitrine

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