São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Crise racha grupo de amigos do presidente

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise política que atingiu o governo na semana passada rachou o grupo de amigos e auxiliares mais próximos do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Além de Motta, fazem parte dessa ala o senador José Serra (SP) e os deputados José Aníbal (SP) e Arthur Virgílio (AM).
No final da semana, um integrante do grupo que defendeu uma punição a Sérgio Motta afirmava que a presença dele no governo se tornou "insuportável".
A permanência de Motta na equipe de FHC, segundo esse amigo do presidente, que pediu para não ser identificado, é "certeza" de uma nova crise política.
Na avaliação de assessores de FHC, o ministro das Comunicações não consegue se controlar e tampouco tem dimensão política do que seus atos podem provocar.
Fase "light"
Um exemplo é a própria entrevista que provocou a última crise. Antes de sua publicação, Serjão a comentou com o deputado Arthur Virgílio.
Questionando sobre o teor de suas declarações, Serjão teria dito: "Foi uma entrevista insossa, estou na minha fase 'light"'.
Segundo amigos do presidente, ele estaria decidido a demitir o amigo, mas não pôde fazê-lo agora porque daria muita força ao PFL.
A saída honrosa para Serjão seria deixar o governo para se candidatar a deputado federal nas próximas eleições.
O ministro das Comunicações chegou a ser sondado por FHC, antes da crise, sobre a possibilidade de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.
Na ocasião, Motta teria dito que preferia ficar no governo. "Agora, com essa crise, ele é candidato a deputado federal", comentava um tucano que frequenta o Planalto.
O grupo que apóia o ministro das Comunicações decidiu recuar a partir de quarta-feira, quando percebeu que a crise se agravara com a reação do PFL e PMDB.
O líder do governo na Câmara, deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), ameaçou deixar o cargo. O mesmo fizeram ministros peemedebistas.
Os amigos de Motta têm outra leitura sobre o desfecho da crise. Sabem que o líder saiu enfraquecido, mas lembram que o trator já se meteu em outras confusões e acabou ressurgindo com mais força.
Acreditam até que o presidente avalizou, em parte, as críticas de Motta durante sua entrevista no Palácio do Planalto.
Os aliados de Serjão destacam o seguinte trecho da fala do presidente: "Não cabem críticas públicas de ministros a ministros. Podem até ter base em percepções pessoais, no âmbito doméstico, privado, mas que, transpostos para a cena pública, podem dar a impressão de falta de coesão".
Em público
Na leitura do grupo de Motta, o presidente concorda com as críticas do ministro das Comunicações. Só não gostou de que elas tenham sido feitas publicamente.
Além disso, FHC elogiou a atuação de Motta. Chegou a dizer que ele está fazendo uma "revolução" na área de telecomunicações.
Na opinião de ministros que se posicionaram contra Motta, o grupo de Serjão está se "iludindo". Segundo eles, o "governo paralelo" do ministro das Comunicações acabou com essa crise.
A maior prova disso seria o ar de constrangimento demonstrado por FHC durante a entrevista em que censurou Sérgio Motta. "Se vier uma nova crise e o Motta ficar, o governo acaba", diz um assessor do presidente.

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