São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Felizes férias

JANIO DE FREITAS

O intervalo não chegou nem a 48 horas. Muitos jornalistas ainda falavam da zanga mostrada na TV, na quarta à noite, por Fernando Henrique contra Sérgio Motta, e já à tardinha de sexta-feira os dois chegavam juntos, ternos e fraternos, para o encerramento do Festival de Campos do Jordão e início das férias presidenciais de dez dias. Uma grande desconsideração com jornalistas que têm prestado e se prestado a tantos contorcionismos.
Férias do presidente da República, férias dos deputados, férias dos senadores. Continuação lógica da semana em que o presidente da República e os deputados e senadores governistas se ocuparam da entrevista de Sérgio Motta, enquanto 18 Estados fermentavam sob insatisfações elevadas à rebeldia ou manifestações cujo desenrolar ordeiro não lhes diminuiu a expressividade.
Já não se fazem brioches como antigamente. Mas as marias antonietas não mudaram em nada.
Dinheiro no ralo
A ordem dada por aí foi de "fazer balanços positivos" do desempenho do Congresso na convocação extraordinária, encerrada anteontem. Foi a promessa feita a Michel Temer e Antonio Carlos Magalhães, presidentes da Câmara e do Senado, em troca de não atrapalharem o faturamento das rádios e TVs com a convocação de rede nacional, para apresentar o suposto balanço.
Jogado ao lixo o blablablá que nada teve de extraordinário, o balanço só pode apresentar três feitos. Um foi a primeira votação das quatro necessárias à prorrogação do Fundo de Estabilização Fiscal, segundo nome daquele Fundo de Emergência Social que nunca tratou de emergência nem do social, mas pagou boas mordomias do Alvorada. Outro foi a primeira das quatro votações necessárias à "reforma" administrativa. Muito pouquinho.
Mas o terceiro feito esteve à altura do esperado: a molequice em que acabou a CPI dos títulos públicos, ou dos precatórios, no Senado.
Para essa obra de grandiosidade tríplice, a convocação extraordinária do Congresso por Fernando Henrique Cardoso haveria, claro, de ter um custo também grandioso. Não será, porém, de R$ 24 milhões, como calculado por serem triplicados os vencimentos dos deputados e senadores. Além desses vencimentos, há os gastos com funcionários e respectivos extraordinários, os altos gastos com serviços para funcionamento do Congresso e as mordomias dos parlamentares quando em Brasília.
Gasto final dos cofres públicos: em torno de R$ 45 milhões.
Auto-excluído
Convidado, no fim de 96, para o congresso internacional de sociologia, que então se organizava para começar no fim do mês que vem, em São Paulo, Fernando Henrique Cardoso deu resposta imediata: "Quero ir, sim, e quero fazer a conferência de abertura".
Os organizadores do congresso receberam, há pouco, uma comunicação do Planalto: Fernando Henrique desistiu de fazer a conferência de abertura. Nem, ao menos, quer ir ao congresso.
Nestes tempos de Brasil movido a manifestações de protesto social, realizadas com amplitude geográfica só vista nos antecedentes do golpe de 64, o tema do congresso explica, por si só, a desistência do presidente-sociólogo: "Por uma sociedade sem excluídos e sem exclusões".

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